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O missionário Paulo e a comunhão eclesial
ARTIGO
Publicado em 21/04/2021

Algumas vezes, ouvimos diante das preocupações que os católicos têm: eu sou católico porque sou de Cristo, não sou da Igreja, nem do Papa, nem dos bispos e nem dos padres. Não é verdade. Todos, em Cristo, somos um, interligados. O batismo nos faz um só. Intimamente interligados. As mediações são sempre imperfeitas, pois a salvação vem de Deus, mas não podemos ignorar que nossa fé vive no mundo imperfeito, no meio de todas as questões que fazem nosso cotidiano, inclusive o pecado. Ninguém é imune dele. Todos precisamos da graça de Deus e, na comunhão, podemos nos ajudar e vencer os pecados. 

O testemunho do grande missionário São Paulo nos ajuda. Ele, além de viver a comunhão eclesial, também nos ensinou o que significa a comunhão, através do conceito do “corpo de Cristo”. Em primeiro lugar, Paulo sente em si esta ligação com todas as comunidades e com cada uma em particular. “Meus filhos, sofro novamente como dores de parto, até que Cristo esteja formado em vocês” (Gl 4,19). As palavras que Paulo dirige à comunidade são de um pai para seus filhos, com exortações cheias de preocupação e desejo de ajudar.  A missão é um ato gerativo e formativo. Não basta somente batizar, é preciso acompanhar o processo “até que Cristo seja formado em vocês” (Gl 4,19), que tenham “os sentimentos” e “a forma” de Cristo (cf. Fl 2,5). Esta imagem apresenta Paulo no papel espiritual de mãe e de pai. Não se sente funcionário do evangelho, mas vive o seu ministério apostólico como maternidade e paternidade espiritual. Paulo, de novo deve gerar os gálatas à vida em Cristo. A dor do apóstolo é comparável à dor do parto, é dor repetida, porque está sempre em ato. Sua paternidade não é para formá-los à sua imagem, mas para alcançar a forma de Cristo. Essa forma é a de Cristo, filho de Deus, na qual os cristãos vão sendo transformados progressivamente até a plena configuração (2Cor 3,18). Como a criança recebe da mãe a sua forma de pessoa humana assim os Gálatas recebem por meio do apóstolo, a forma de Cristo. Sentia pelas comunidades que fundou, o ciúme de Deus, temendo que elas perdessem a fé.

Para Paulo, o mistério pascal, traduzido existencialmente na vida de cada um dos batizados, realiza-se na vida e missão de cada um dos batizados. Nisso se fundamenta o conceito de “corpo de Cristo”, em duas dimensões. A primeira é de cunho sociológico, segundo o qual os membros não existem por si só. Todos os membros são importantes e somam para que o corpo viva e realize suas funções. Todas as vocações são importantes e todos são chamados a vivermos a caridade e manifestarmos a unidade do corpo. “Esta é a grandeza da Igreja e a grandeza da nossa chamada: somos templo de Deus no mundo, lugar onde Deus realmente habita e, ao mesmo tempo, somos comunidade, família de Deus, que é caridade” (Bento XVI, 18/10/2008). A comunidade viva é o lugar da presença de Deus no mundo. Em cada comunidade a Igreja está, toda ela, não somente alguns. Neste sentido, o institucional tem prevalência sobre o pessoal. É para o corpo que alguém é batizado, acolhido, formado e enviado. A Igreja sempre nos precede. 

No sacramento da Eucaristia, sinal visível da unidade da Igreja, somos um em Cristo, pela ação do Espírito Santo. “Assim, a realidade vai muito além da imagem sociológica, expressando a sua essência verdadeira e profunda, ou seja, a unidade de todos os batizados em Cristo, considerados pelo Apóstolo ‘um só’ em Cristo, conformados com o sacramento do seu Corpo” (Bento XVI, 18/10/2008). Enfim, a Igreja é una, como afirma a primeira característica. Não é por causa da santidade de todos os membros, mas porque ela é “Igreja de Deus”, “campo de Deus, edificação de Deus”. Amemos a Igreja, santa e pecadora. 

 

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