Na Carta aos Filipenses, Paulo escreve: “Anseio pelo conhecimento de Cristo e do poder de sua Ressurreição, pela participação em seus sofrimentos, tornando-me semelhante a ele na morte, com a esperança de conseguir a ressurreição dentre os mortos” (Fl 3,10-11). O discípulo missionário de Jesus Cristo, à medida que o segue no cotidiano e vai rezando na sua presença e o anunciando vai conhecendo-o devagar. Pouco serve conhecer algo bem superficial, somente do tempo da iniciação à vida cristã, e depois permanecer assim, sem mais aprofundar. Na carta aos Coríntios, Paulo diz “de modo que, desde agora em diante, a ninguém conhecemos segundo a carne. Ainda que tenhamos conhecido a Cristo deste modo, agora já não o conhecemos assim” (2Cor 5,16). Conhecer “segundo a carne” é uma maneira mais superficial, exterior, como duas pessoas que se conhecem de modo pouco profundo. Contudo, mesmo conhecendo alguém desta forma, somente o conhecemos realmente se conhecemos o núcleo da pessoa. De fato, “só no coração se conhece verdadeiramente uma pessoa” (Bento XVI, 08/10/2008).
Já no final de sua vida, quando escreve a Carta aos Filipenses, Paulo conseguiu adentrar na vida e nos sentimentos do Salvador. Por isso, ainda “anseia” por conhecê-lo, deseja profundamente. E o conhecimento não é exterior, “da carne”, mas a sua Ressurreição, os seus sofrimentos, a sua morte, a esperança que brota daí. Daí, de fato, conseguimos conhecer a Cristo. Não vale somente um conhecimento superficial: “Quem dizem as pessoas que Eu sou?” Muito já se falou sobre Jesus Cristo, em todas as ciências. Ele é pesquisado na Filosofia, na Psicologia, na Educação, na Sociologia. Contudo, para o cristão, isto é importante, mas não decisivo. O caminho de iniciação cristã deve ir direto no ponto central: “quem dizeis vós que Eu sou?” É claro que a fé deve ir crescendo na vida da pessoa, à medida que precisa dar razões, aprofundar e confrontar com os valores do nosso tempo. Se quisermos olhar na perspectiva da Leitura Orante, o momento da contemplação é o mais importante: depois de conhecer as palavras, imaginar sua presença e o local, orar a Ele, agora sim, estar diante dele, como dois amigos que se amam e se contemplam. Este é o caminho privilegiado para conhecer o interior, ir além “da carne”. A imagem privilegiada é a Páscoa do Crucificado-Ressuscitado.
“Paulo conhece a paixão de Jesus, a sua Cruz, o modo como Ele viveu os últimos momentos da sua vida. A cruz de Jesus e a tradição sobre este acontecimento da Cruz está no centro do querigma paulino” (Bento XVI, 08/10/2008). Paulo não descreve a missão de Jesus, a não ser alguma alusão, mas fala abundantemente de sua morte e ressurreição. Nela está o centro de nossa fé e o verdadeiro conhecimento de Cristo. Libertados pela fé, da nossa situação de pecado, agora sim, acolhidos como filhos, podemos chamar a Deus de Abbá Pai, que expressa a exclusividade da nossa nova vida em Cristo (cf. Rm 8,15). Tudo conduz para que, na humildade, acolhamos a salvação e levemos uma vida digna. Mas, também, não se trata somente de uma vida que foi salva, que foi liberta dos pecados, que conheceu os sofrimentos de Cristo, mas de uma vida de “ressuscitados” em Cristo. “O reflexo fiel desta palavra de Jesus sobressai na doutrina paulina sobre a morte de Jesus como resgate (cf. 1Cor 6,20), como redenção (cf. Rm 3,24), como libertação (cf. Gl 5,1) e como reconciliação (cf. Rm 5,10)” (Bento XVI, 08/10/2008). Nosso tempo nos convida a superarmos devoções e termos um conhecimento existencial, como Paulo, “daquele que me amou e por mim se entregou” (Gl 2,20).