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DIZ CONCORDANDO
ARTIGO
Publicado em 10/07/2021

A PANDEMIA TIROU DE NÓS O QUE NUNCA TIVEMOS

Jonas Freier Ribeiro 

Um dos maiores presentes que a Modernidade nos doou foi a ilusão de que agora temos o controle da própria vida e da natureza. Os diversos avanços nos aparatos tecnológicos nos dão a sensação de que agora somos senhores do mundo. E no atual mundo capitalista, quem tiver mais dinheiro, mais poderá usufruir de tal status de autoridade. Senhas, chaves, controles, aparelhos por comando de voz e outras bugigangas nos passam a sensação de que agora o governo está em nossas mãos. Vivemos com esse “joystick” imaginário da vida.

Não contávamos, porém, com um inimigo tão ínfimo e tão destrutível como o coronavírus. Como se fosse apenas uma ideia muito poderosa, já que não o vemos, o vírus fez um terremoto global. Pôs todo mundo para correr. Ameaçou acabar com a brincadeira. E quando mostramos força de dissipá-lo, ele se transmuta e revigora. Assim, nossa Torre de Babel, com suas formas de controle e poder, foi abalada. Diante de tanto conhecimento, remédios e aparelhos, não há um capaz de dar comando ao bicho e colocar ele em retirada.

No final das contas, ainda somos sempre vulneráveis, carentes e desamparados. Vivemos com um controle artificial sobre a vida para parecer que estamos no controle. Não há como escapar do destino trágico de todos nós. Morreremos mais cedo ou mais tarde, mesmo que tenhamos estendido um pouco mais os anos de vida. O único controle que temos, então, é imaginário. É uma sensação proporcionada pelas nossas tecnologias. E o vírus provou que na realidade essa sensação não se sustenta, pois é uma casa construída sobre a areia.

Claro, pode se sustentar ainda a partir de uma negação. A negação de que tudo é apenas uma gripezinha ou de que não passa de uma fantasia conspiratória. Ter derrubada sua potência imaginária pode deixar o sujeito no total vazio, caso esta estrutura fosse onde ele mais se sustentava. Para não cair ao chão, o sujeito ainda patina no ar como nos desenhos animados. Nega porque seria terrível demais admitir que sua muralha, onde se resguardava dos ataques da vida, era apenas uma sensação. Seria insuportável demais admitir que nunca teve de fato o que a pandemia lhe arrancou.

Não há portão, porta, muro, divisa, condomínio que dê conta de barrar a realidade de que vivemos sem uma proteção total. Não há fronteiras que nos deixe em um lugar totalmente seguro. O vírus provou que nossas barreiras não afastam nossas ameaças para sempre. Vamos ter que aprender a viver com elas para podermos viver. Como falou o narrador no último episódio da série Sweet Tooth (Netflix): “Quando as coisas desmoronam, descobrimos quem realmente somos. Se enxergamos além do medo, podemos ver o que realmente importa e aprendemos que às vezes as coisas que nos separam também podem nos unir.”

 

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