Humildade para ser cristão
DOM ADELAR BARUFFI - BISPO DA DIOCESE DE CRUZ ALTA
“Farei que se cale diante de mim quem é falso e às ocultas difama seu próximo. O coração orgulhoso, o olhar arrogante não vou suportar e não quero nem ver” (Sl 100,5). Este salmo nos fala para hoje: precisamos ter mais humildade! A humildade é a condição antropológica para aceitar que não temos sempre a razão e que nossa vida não se basta a si mesma. Somos sempre com outras pessoas, desde nosso nascer até nosso morrer. O contrário da humilde é o orgulho, de quem quer sempre partir de si. O homem moderno criou um estilo de relação com Deus bem difícil para viver a humildade. Deus deixou de ser aquele que oferece o sentido para tudo, que nos ama antes de nascermos e nos conduz a vivermos a vida eterna com Ele. A antropologia moderna acentuou tanto o “tu podes” que deixou o ser humano cansado. Nós sabemos que não podemos tudo e nem conseguimos dar conta de nossa vida, de nossas misérias. Então, a humildade é condição para aceitação que temos alguém fora de nós, que nos criou e do qual dependemos. Muitos se consideram como o centro. E se o ser humano é o centro, com suas ideias, qual o lugar para Deus?
Santa Teresa de Ávila nos ensina que “humildade é andar na verdade” (Sta. Teresa d’Ávila). Andar na verdade é ver o que somos, com as grandes possibilidades e, também, nossa pequenez. Reconhecer com realismo nossa existência, o que somos e reconhecer Deus e o seu mistério. Consiste em afastar a vista de si e voltar o olhar para Deus. Reconhecer-se miserável e, em seguida, conservar-se perante Deus com todas as suas misérias para que ele as transforme em amor. Santa Terezinha do Menino Jesus, conseguiu perceber e viver mais aprofundadamente esta realidade do fazer-se pequeno para que Deus possa agir em nós. “Para ser de Jesus é preciso ser pequenino, pequenino como uma gota de orvalho!... Oh! Como são poucas as almas que aspiram a ser pequenas e desconhecidas” (C141). A humildade é virtude básica para quem quer ser discípulo de Cristo, ajusta-se perfeitamente à espiritualidade cristã. Sem esta, não há lugar para Deus.
Ao discípulo Jesus pede que seja humilde e tome sua cruz a cada dia (Lc 9,18). A humildade é antes de tudo uma opção interior básica. Só Deus é Deus. Renúncia a fundar a existência no que temos, podemos, sabemos ou desfrutamos. Decisão firme e vital de depositarmos nossa confiança básica em Deus. “O meu poder se perfaz na fraqueza” (2Cor 12, 7-10).
A humildade nos ajuda a nos sentirmos vinculados a uma instituição, a uma sociedade, à nossa Igreja, que nenhuma delas é por si mesma santa, mas eu também sou assim, faço parte dela. Esta humildade me livra de julgar e apedrejar. Ajuda-me a acolher sempre, antes de emitir julgamentos. Como o Beato Carlos de Foucauld, nós dizemos: “Meu Deus, a vós me abandono, fazei de mim o que quiseres”.
Então, sim, podemos dirigir nosso pensamento a Deus e confiar nele. O nosso caminhar vem dele. Ele é o centro de nossa vida. E nosso rezar não pode ser “pedido” e “gratidão”, mas o sentir o acompanhar de Deus em nosso caminhar sempre. No caminho, podemos e devemos colocar a Ele nossos fardos.