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Produtores gaúchos acompanham com cautela guerra comercial entre China e EUA em meio a perdas na colheita da soja
Publicado em 08/04/2025 11:28
AGRO

A guerra comercial entre China e Estados Unidos voltou a ganhar força nos últimos dias, impactando diretamente o mercado da soja e gerando incertezas entre produtores brasileiros, especialmente no Rio Grande do Sul. A preocupação é crescente diante da forte dependência do Brasil em relação ao mercado chinês, principal destino da soja nacional.

A tensão entre os dois gigantes econômicos levanta dúvidas sobre os rumos das exportações. Atualmente, mais de 60% da soja brasileira tem como destino a China. Produtores no estado avaliam que, mesmo diante da disputa, um acordo comercial será inevitável, já que a demanda por alimentos permanece elevada. A orientação entre representantes do setor é de cautela, com atenção ao comportamento dos preços para evitar vendas precipitadas durante momentos de baixa.

Há também quem veja no impasse uma possível oportunidade para o Brasil. Caso a China restrinja a importação de soja dos Estados Unidos, aumentará sua demanda por grãos brasileiros e argentinos. No entanto, há o alerta para uma pressão maior de oferta nas próximas semanas, com muitos produtores precisando vender parte da safra para quitar dívidas nos meses de abril e maio.

O cenário internacional é desafiador. A China, que há quatro décadas possuía um Produto Interno Bruto semelhante ao do Brasil, hoje tem uma economia oito vezes maior. Em relação à produção, o Brasil deve colher cerca de 170 milhões de toneladas de soja neste ciclo, superando Estados Unidos (com estimativas entre 115 e 120 milhões) e Argentina (com 49 a 50 milhões), consolidando-se como principal fornecedor global.

A imposição de tarifas entre os dois países acirrou o conflito. A China aplicou taxações de até 34% sobre produtos americanos, em retaliação a medidas semelhantes dos EUA. O superávit comercial chinês frente aos Estados Unidos, que ultrapassou US$ 429 bilhões no ano passado, mostra a complexidade da relação e levanta dúvidas sobre a viabilidade de uma disputa prolongada.

Enquanto isso, no campo gaúcho, os desafios são outros. A colheita da soja já atinge cerca de 85% da área cultivada em regiões como Passo Fundo, mas a produtividade preocupa. Relatos indicam perdas superiores a 50% em algumas propriedades, causadas por chuvas irregulares e períodos de calor intenso durante o ciclo da lavoura. A quebra pode até reduzir a demanda por espaço de armazenagem em cooperativas e silos.

A previsão do tempo também não favorece os trabalhos no campo. Há possibilidade de chuvas entre o fim da tarde de segunda-feira e terça-feira, o que pode interromper a colheita. Um intervalo de tempo firme é esperado para o meio da semana, mas novas pancadas de chuva estão previstas para o final de semana.

Nos demais mercados, o milho teve uma leve alta no cenário internacional, ainda sem grandes impactos para os produtores brasileiros. Já o setor de bioenergia se destaca como promissor, com o Brasil ampliando sua relevância na produção de etanol e biodiesel, o que pode oferecer alternativas ao escoamento de parte da produção agrícola.

 

Diante da combinação de instabilidade no clima e no comércio global, a recomendação é de cautela. Especialistas do setor aconselham os produtores a acompanharem de perto os desdobramentos internacionais e manterem estratégias de venda alinhadas com o comportamento dos preços e as necessidades financeiras de curto prazo.

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