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Produtor rural analisa o êxodo rural e sua trajetória de volta ao campo
AGRO
Publicado em 04/02/2025

O êxodo rural, fenômeno que há décadas altera a dinâmica social e econômica do Brasil, segue como um dos maiores desafios para as comunidades agrícolas. A busca por melhores condições de vida, oportunidades de trabalho e acesso à educação nas cidades são as principais razões que levam jovens, adultos e até famílias inteiras a deixarem o campo. Além disso, fatores estruturais como a falta de políticas públicas adequadas, a mecanização agrícola e as dificuldades de infraestrutura nas áreas rurais reforçam a saída em massa para os centros urbanos.

Para enriquecer esse debate, o produtor rural Sílvio Américo Ohse, de 72 anos, compartilha sua história. Com uma trajetória que inclui vivência internacional na Alemanha, visitas a mais de 100 países e uma formação que abrange técnico agrícola, economia e direito, Sílvio é um exemplo vivo do êxodo rural e de seu impacto.

Nascido no interior de Almirante Tamandaré do Sul, à época pertencente a Carazinho, Sílvio começou cedo sua jornada. Aos 12 anos, deixou o lar para estudar em uma escola técnica agrícola no interior de Carazinho e, posteriormente, em Erechim. Após servir no Exército, enfrentou dificuldades impostas pelo regime militar dos anos 70, que o impediram de cursar engenharia, levando-o a seguir outros caminhos. Trabalhou como técnico agrícola, especializou-se na Alemanha e atuou em empresas como a Embrapa e multinacionais do setor agrícola, até que decidiu retornar às suas raízes e investir na agricultura.

“Deixei de ser agricultor para depois poder voltar a ser agricultor. Esse foi meu êxodo rural”, reflete Sílvio, que trocou uma promissora carreira como economista, incluindo uma oferta para gerenciar uma grande empresa em São Paulo, para realizar o sonho de ser empresário no campo. Hoje, ele administra terras em Panambi, onde se dedica à agricultura e reforça sua paixão por essa atividade.

Causas contemporâneas do êxodo rural

Sílvio explica que o êxodo rural dos dias atuais tem características diferentes daquele de 40 anos atrás. No passado, a ausência de infraestrutura no campo, como escolas e serviços básicos, forçava os jovens a migrarem para os grandes centros. Atualmente, além da busca por educação e emprego, outros fatores intensificam o abandono das zonas rurais:

  • Mecanização agrícola: A crescente mecanização reduziu a necessidade de mão de obra no campo, resultando em desemprego para pequenos agricultores e trabalhadores rurais.
  • Falta de incentivo à agricultura familiar: Muitas famílias não conseguem manter suas propriedades devido aos altos custos de produção e à dificuldade de competir com grandes produtores.
  • Carência de infraestrutura: Estradas precárias, ausência de acesso à internet de qualidade e a falta de serviços essenciais, como saúde e lazer, tornam o campo menos atraente para as novas gerações.
  • Mudanças climáticas: A irregularidade das chuvas e fenômenos como estiagens prolongadas têm impactado severamente a produção agrícola, desencorajando pequenos produtores.

“Hoje, muitos jovens deixam o campo para estudar e acabam se estabelecendo nas cidades, onde encontram outras oportunidades de trabalho. Isso muda o foco das propriedades rurais, que muitas vezes são arrendadas ou abandonadas pelas famílias”, destaca Sílvio.

A importância de um retorno planejado

Apesar das dificuldades, Sílvio acredita que é possível reverter o êxodo rural com políticas públicas eficientes e uma abordagem inovadora. Ele aponta que a valorização da agricultura familiar, o incentivo à modernização tecnológica no campo e o fortalecimento da infraestrutura rural podem atrair novas gerações de volta às comunidades agrícolas.

“A agricultura sempre foi minha maior identificação. Por isso, voltei às minhas origens. Mas é preciso que haja um debate nacional sobre as condições estruturais do meio rural no Brasil. Não basta criticar o êxodo; é necessário pensar em maneiras de promover o retorno, com planejamento, especialização e inovação”, conclui.

A trajetória de Sílvio Américo Ohse é um exemplo de resiliência e de como o campo pode ser um espaço de oportunidades para aqueles que buscam inovar, investir e resgatar suas raízes, mesmo em tempos de desafios. Sua história evidencia que, para muitos, o êxodo rural não precisa ser um caminho sem volta, mas sim uma jornada de aprendizado que permite um retorno fortalecido e transformador.

Com informações: Jornalista Fernando Kopper

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