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Três meses após tragédia com ônibus da UFSM, vítimas ainda enfrentam dor, incertezas e dificuldades para recomeçar
Por FRANCISCO DAROLD
Publicado em 04/07/2025 10:32
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A dor, física e emocional, ainda é presente na vida das vítimas do acidente de ônibus ocorrido em Imigrante, há três meses, que resultou na morte de sete estudantes do Colégio Politécnico da Universidade Federal de Santa Maria (UFSM) e deixou outros 26 feridos. Nesta sexta-feira (4), parte dos sobreviventes compartilha as angústias que permanecem e as dúvidas quanto ao retorno às aulas.
Mesmo com menos de um mês de curso, os alunos do primeiro semestre do Técnico em Paisagismo relatam que já havia um clima de amizade e integração. No entanto, o acidente interrompeu essa convivência. Muitos mantêm contato virtual, mas há incertezas sobre o futuro acadêmico. Alguns cogitam não retomar os estudos em agosto; outros só voltariam se todos pudessem continuar juntos na turma.
Eliane Ravazi Matos, de 55 anos, trabalhava no comércio e ingressou no curso com o objetivo de projetar o próprio jardim. Ela teve a perna amputada após sofrer fraturas graves e perder muito sangue. Desde então, vive em cadeira de rodas, acompanhada por duas cuidadoras e com apoio psicológico oferecido pela UFSM. Emocionada, relata que o primeiro banho de chuveiro, no Dia das Mães, foi um marco em sua recuperação. Eliane ainda não sabe se precisará de nova cirurgia para usar uma prótese, mas mantém a fé: “Sempre tive comigo que eu vou caminhar”.
Outra sobrevivente, Fernanda de Menezes, advogada de formação, entrou no curso para aliviar o estresse profissional. Após fraturas no ombro, nariz e pé, passou a auxiliar colegas e familiares na busca por ações judiciais. Ela relata atraso no início das sessões de fisioterapia que, segundo ela, só começaram dez dias após a alta hospitalar. Uma colega teria iniciado o tratamento apenas em junho.
Entre os casos mais leves, Ana Müller, de 48 anos, ainda sofre com dores no ombro e dificuldade para realizar exames. Roberta Dalmaso sofreu fraturas no nariz, costelas e mandíbula. Já Lucas Jacobi Dalcin, considerado um herói pelos colegas, ajudou a resgatar vários feridos. Ele lembra de ter percebido o aumento da velocidade do ônibus antes do acidente e gritou para que os passageiros colocassem o cinto de segurança. Mesmo ferido, retirou colegas do veículo e critica a demora no socorro oficial.
Lucas, que deixou Santa Maria, afirma que só voltará às aulas quando todos os colegas tiverem condições de seguir no curso. Ele também ajudou a fundar a Avapi — Associação das Vítimas do Acidente em Imigrante/RS — que já possui presença nas redes sociais e avança para formalização jurídica.
A UFSM informa que, após o acidente, criou espaço de acolhimento e uma equipe multiprofissional de apoio. Foram oferecidos atendimentos psicológicos, fisioterapias, visitas domiciliares, fornecimento de materiais hospitalares, e apoio para a compra de óculos e serviços funerários. Também há previsão de iniciar sessões de hidroginástica.
O seguro estudantil, de R$ 5 mil, tem sido alvo de críticas por não cobrir todas as despesas. Algumas vítimas afirmam não ter recebido os reembolsos mesmo após o envio dos comprovantes. No caso dos óculos, a UFSM afirma ter ressarcido nove estudantes, mas as exigências burocráticas dificultaram o acesso ao benefício. Eliane, por exemplo, ainda não conseguiu refazer seus óculos por falta de dinheiro.
O inquérito policial foi concluído em maio, com o indiciamento de três pessoas: o motorista do ônibus, o responsável pelo núcleo de transporte da UFSM e uma representante da empresa que contrata os motoristas. O Ministério Público aguarda a entrega de exames pendentes e documentos complementares antes de decidir se apresentará denúncia formal.
Diversas ações judiciais estão em preparação. Segundo os escritórios que atendem as vítimas, os processos devem começar a ser ajuizados nos próximos dias, mas detalhes ainda não serão divulgados para preservar as famílias envolvidas.
Enquanto aguardam respostas da Justiça, tratamentos médicos e apoios institucionais, os sobreviventes enfrentam diariamente o desafio de reconstruir suas rotinas, e, sobretudo, suas vidas.
Com informações: Jornalista Fernando Kopper
Fonte: GZH
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