Uma fraude bilionária envolvendo descontos não autorizados em aposentadorias e pensões do INSS desencadeou um embate político entre o governo do presidente Luiz Inácio Lula da Silva (PT) e a oposição ligada ao ex-presidente Jair Bolsonaro (PL). A operação da Polícia Federal, em parceria com a Controladoria-Geral da União (CGU), revelou que sindicatos e associações de aposentados teriam firmado convênios com o INSS para descontar mensalidades diretamente dos benefícios sem autorização dos segurados.
Segundo dados da CGU, entre 2019 e 2024 os descontos promovidos por entidades associativas somaram R$ 6,3 bilhões. Embora parte desse valor tenha sido legal, cerca de 60% foi registrado nos dois últimos anos, durante a atual gestão federal. Ainda assim, não há confirmação oficial sobre o montante total desviado de forma indevida.
O governo Lula defende que o esquema começou em administrações anteriores, com convênios firmados durante os governos de Michel Temer (MDB) e Bolsonaro. Parlamentares governistas, como o senador Humberto Costa (PT-PE), afirmam que foi a atual gestão que iniciou as investigações e desmontou o esquema. A oposição, por sua vez, responsabiliza o governo petista pelo aumento expressivo dos valores descontados a partir de 2023 e já protocolou um pedido de CPI na Câmara para apurar o caso.
A CGU identificou que a maioria dos convênios com entidades suspeitas foi assinada durante o governo Bolsonaro, entre 2021 e 2022. Apenas uma associação investigada firmou acordo em 2023, já na gestão de Lula. Ainda assim, os valores descontados saltaram de R$ 706 milhões em 2022 para R$ 1,3 bilhão em 2023, com projeção de R$ 2,6 bilhões em 2024.
Além do impacto financeiro, a CGU identificou que mais de 97% dos beneficiários ouvidos em uma amostra nacional negaram ter autorizado qualquer desconto, levantando suspeitas de que milhões de aposentados tenham sido lesados. A investigação também aponta inércia da diretoria do INSS, que, segundo a controladoria, não tomou providências efetivas para impedir os abusos, mesmo após denúncias anteriores do Ministério Público.
O presidente do INSS, Alessandro Stefanutto, foi demitido por Lula após a operação e negou envolvimento no caso. Ele afirmou que adotou medidas contra os descontos ilegais e que confia na elucidação dos fatos. O ministro da Previdência, Carlos Lupi (PDT), também é pressionado politicamente, mas continua no cargo.
As investigações seguem em andamento e devem detalhar, nos próximos meses, o grau de responsabilidade de cada gestão federal no avanço da fraude. Enquanto isso, o escândalo já movimenta os bastidores de Brasília e se torna mais um elemento na polarização política entre lulistas e bolsonaristas.
Com informações: Jornalista Fernando Kopper