Neste 20 de novembro, Dia Nacional da Consciência Negra, o Brasil celebra pela primeira vez a data como feriado oficial. Com origem na luta contra a escravidão e em memória de Zumbi dos Palmares, a ocasião reforça a importância de lembrar episódios históricos que escancaram o racismo, mas também a resistência da população negra.
Em Passo Fundo, no norte do Rio Grande do Sul, a história do Clube Visconde do Rio Branco destaca-se como símbolo dessa resistência. Fundado em 1912 por 11 homens negros barrados em clubes sociais devido a restrições racistas nos estatutos, o movimento teve início com a criação da Sociedade José do Patrocínio. Quatro anos depois, o grupo passou a se chamar Clube Visconde do Rio Branco, um espaço dedicado à cultura, lazer e sociabilidade da comunidade negra.
O clube, que foi pioneiro ao ter uma diretora mulher, Dona Madalena, construiu sua sede própria em 1932, no bairro Boqueirão, onde a população negra de Passo Fundo se concentrava. Ali, festas como carnavais, bailes de debutantes e manifestações culturais afro-brasileiras eram realizadas, celebrando a identidade negra em meio a uma sociedade marcada pelo racismo.
Memórias e resistência
Maria de Lourdes Isaias da Cruz, de 93 anos, descendente dos fundadores, relembra com orgulho os momentos vividos no Visconde do Rio Branco, como a noite em que foi coroada rainha do clube na década de 1950. “Meu vestido era branco, bem rodado. Era uma época bonita, mas também difícil por conta do racismo”, relata.
Apesar de viver momentos marcantes no clube, Maria recorda episódios de preconceito, como quando foi impedida de comprar um tecido caro por ser negra. “Mesmo com posses, o preconceito estava sempre presente”, lamenta.
Atualmente, as ruínas do clube ainda estão de pé, simbolizando um legado que resiste ao tempo. Para Maria, as mudanças na sociedade, como o feriado oficial e avanços nas relações raciais, são sinais de evolução. “Hoje, brancos nos servem, algo impensável no passado”, reflete.
O Dia da Consciência Negra é mais do que uma data comemorativa; é um convite à reflexão sobre a história, o racismo estrutural e a luta contínua por igualdade no Brasil. Em Passo Fundo, o Visconde do Rio Branco segue como um marco da resistência e do protagonismo negro na cidade.
Com informações: Jornalista Fernando Kopper
Fonte e fotos: Jornalista Tatiana Tramontina/GZH