A Promotoria de Justiça de Itapeva, no interior de São Paulo, estava prestes a receber uma nova estagiária nesta terça-feira (10), quando uma operação da Polícia Federal (PF) e do Ministério Público Estadual (MPE) impediu a posse da estudante de Direito Elaine Souza Garcia. Conhecida no submundo do crime como "Patroa", Elaine é suspeita de envolvimento com o Primeiro Comando da Capital (PCC), uma das facções criminosas mais poderosas do país, e foi presa poucas horas antes de assumir o cargo.
Elaine, que estava convocada para iniciar o estágio na Promotoria de Itapeva, a 290 km da capital paulista, é investigada por seu papel no planejamento e liderança de ações do chamado "novo cangaço" — um tipo de crime caracterizado por ataques violentos em cidades pequenas, voltados principalmente para roubo a bancos e empresas de transporte de valores. Segundo a Polícia Federal, Elaine desempenhava um papel central nas atividades da facção, tendo participação ativa em decisões estratégicas.
A estudante foi alvo da Operação Baal, deflagrada em maio deste ano, que busca desmantelar quadrilhas associadas ao PCC envolvidas em crimes de extrema violência, como explosões de caixas eletrônicos, invasão de empresas de segurança e roubo de grandes somas de dinheiro. Os promotores envolvidos acreditam que Elaine foi selecionada para estagiar no Ministério Público com a intenção de acessar informações sigilosas e levantar dados privilegiados sobre investigações em curso, beneficiando a facção.
Operação Baal: um golpe contra o novo cangaço
A prisão de Elaine Souza Garcia ocorreu como parte da segunda fase da Operação Baal, que busca capturar integrantes de quadrilhas do PCC ligadas ao novo cangaço. Além da estudante, outras três pessoas foram presas nesta fase da operação. Entre os detidos, está um homem que havia fugido da Justiça desde 2005 e que só foi capturado em 2024, em outra ação do Ministério Público.
As investigações revelaram uma extensa rede de crimes orquestrados pelo PCC, com foco em roubos violentos que aterrorizam cidades de médio e pequeno porte. Esses ataques, conhecidos como "novo cangaço", se destacam pelo uso de armamento pesado, explosivos e táticas de guerrilha urbana, com os criminosos tomando cidades inteiras, bloqueando estradas e sitiando forças policiais. O objetivo principal é saquear bancos e empresas de valores.
A primeira fase da operação, realizada em maio, resultou na prisão de 12 suspeitos e na apreensão de um vasto arsenal, incluindo fuzis, explosivos e granadas caseiras. Durante as buscas, um dos investigados chegou a reagir e tentar fugir, mas foi contido pelos agentes. Em outra operação relacionada, no Piauí, um dos membros da quadrilha foi encontrado com uma barricada montada em sua casa, sugerindo que o grupo já se preparava para novas ações violentas.
Armas, munições e planos de ataques
A investigação que culminou na prisão de Elaine Souza Garcia também trouxe à tona a magnitude da organização criminosa. Um dos locais investigados, onde antes funcionava uma loja de veículos, atualmente servia como base de operações para o grupo criminoso e foi identificado como esconderijo de armas. Além disso, peças de fardamento policial foram encontradas, reforçando a suspeita de que o grupo estava pronto para encenar novos ataques, disfarçados como agentes da lei.
A quadrilha comandada por Elaine e seus comparsas também planejava um ataque no final de 2023, mas a ação foi suspensa após a morte de um dos líderes do grupo, que foi executado por uma facção rival. No entanto, o plano de assaltar bancos e espalhar terror em cidades do interior continuou em pauta, com novos detalhes sendo descobertos pela polícia ao longo das investigações.
A Operação Baal se baseia em uma série de ações violentas promovidas pelo PCC em diversas regiões do Brasil, incluindo o Paraná, Santa Catarina e São Paulo. Em 2020, a cidade de Guarapuava (PR) foi palco de um dos ataques mais notórios do novo cangaço, quando uma quadrilha sitiou o município, explodindo agências bancárias e enfrentando a polícia com armamento pesado. A cidade de Criciúma (SC), em 2021, também foi alvo de um ataque semelhante, que chocou o país pela violência e precisão dos criminosos.
Tentativa de infiltração no Ministério Público
A prisão de Elaine Souza Garcia levanta preocupações sobre as táticas do PCC para se infiltrar em instituições públicas e obter vantagens em suas operações criminosas. De acordo com os promotores envolvidos no caso, a estudante de Direito foi selecionada pela facção para atuar no Ministério Público com o objetivo de acessar informações estratégicas, comprometendo a segurança das investigações.
A Operação Baal já denunciou 18 integrantes da quadrilha de Elaine, que agora enfrentam acusações formais na Justiça. O Ministério Público pede que cada um deles seja condenado ao pagamento de R$ 5 milhões em indenizações por danos morais à coletividade, além de responderem por seus crimes.
Com a prisão de Elaine e outros membros da quadrilha, as autoridades esperam frear o avanço do novo cangaço no interior do Brasil, mas a investigação continua em andamento para desmantelar toda a estrutura da facção.
A defesa de Elaine Souza Garcia ainda não se pronunciou sobre o caso, mas o espaço permanece aberto para futuras manifestações. Enquanto isso, a operação segue, e a Polícia Federal e o Ministério Público continuam na busca por mais provas e possíveis comparsas que possam estar envolvidos nos crimes da quadrilha.
Com informações: Jornalista Fernando Kopper
Fonte: GZH