O cemitério municipal de Cruz Alta, fundado em 1865, é muito mais do que um simples local de descanso final. Ele guarda a memória de grandes figuras da história do Brasil, como combatentes das revoluções Farroupilha e Federalista, heróis da Força Expedicionária Brasileira (FEB) e políticos que marcaram sua época. No entanto, entre os túmulos de personalidades que ajudaram a moldar o país, há um que se destaca por razões que vão além da história oficial: o túmulo de Armando Cruz, conhecido por muitos como um “santo popular” que atrai fiéis de toda a região em busca de milagres.
A história de Armando é envolta em mistério e lenda. Nascido em São Paulo, ele chegou a Cruz Alta no ano de 1900, aos 20 anos de idade, para trabalhar na construção da linha férrea que atravessaria a região. Pouco tempo após sua chegada, no entanto, Armando faleceu, oficialmente devido à tuberculose. Essa versão da morte, porém, é questionada por muitos moradores locais, que acreditam em uma história bem mais intrigante.
Segundo uma lenda popular que persiste há décadas, Armando teria se apaixonado por uma mulher comprometida, o que teria desencadeado uma série de eventos trágicos. Diz-se que, durante um baile organizado para os trabalhadores da ferrovia, Armando e essa mulher trocaram olhares, despertando a fúria de seu companheiro, o tesoureiro da obra. No dia seguinte, o jovem teria sido falsamente acusado de roubo na tesouraria e, após ser preso, morreu misteriosamente na cadeia. Embora essa história seja encarada como uma lenda, ela faz parte do imaginário popular e contribui para o fascínio em torno de sua figura.
O que torna a história de Armando Cruz ainda mais intrigante é a forma como ele, mesmo sem qualquer ligação oficial com a santidade, passou a ser venerado como um “santo popular” em Cruz Alta. Apesar de a Igreja Católica local afirmar que o Vaticano não reconhece Armando como um santo, a devoção em torno de seu nome se consolidou ao longo dos anos. O jovem paulista, que morreu sem deixar grandes registros históricos, hoje é conhecido em toda a região por supostamente realizar milagres para aqueles que visitam seu túmulo e deixam seus pedidos.
Diariamente, dezenas de pessoas vão ao cemitério municipal de Cruz Alta para fazer suas preces junto à sepultura de Armando Cruz. Muitos depositam cartas com pedidos ou agradecimentos e enchem seu túmulo de flores, numa demonstração de fé que ultrapassa gerações. Em 2010, o túmulo de Armando foi pintado 23 vezes, devido ao fluxo intenso de fiéis que continuam a frequentar o local. Para os devotos, não importa se a história de sua morte é real ou fruto do folclore local; o que importa é a crença de que ele pode interceder por suas causas.
Mas como um jovem paulista, que chegou à cidade como trabalhador braçal, se tornou alvo de tanta veneração? Esse é o grande mistério que envolve Armando Cruz. A história oficial diz que ele morreu de tuberculose, mas a versão lendária, de uma vida interrompida por um crime de paixão e vingança, alimenta o imaginário popular. Na prática, sua história se confunde com outras narrativas de santos populares, figuras cujas mortes trágicas despertam a compaixão e levam à criação de mitos em torno de supostos poderes milagrosos.
Em contato com a igreja católica de Cruz Alta, fomos informados que a figura de Armando Cruz não é reconhecida oficialmente como um santo pelo Vaticano. No entanto, a fé popular em torno de seu nome continua a crescer, movida pelas histórias de milagres relatados por aqueles que recorrem à sua intercessão. Segundo a tradição oral, várias pessoas afirmam ter recebido graças após visitar seu túmulo, deixando pedidos ou promessas. Essas narrativas, passadas de geração em geração, alimentam ainda mais o mito em torno do jovem que, de forma misteriosa, conquistou o status de “santo popular”.
O jornalista Fernando Kopper visitou o cemitério de Cruz Alta e conversou com moradores locais, buscando entender melhor essa devoção que parece desafiar o tempo. Durante sua investigação, foi possível perceber que, mais do que um símbolo religioso, Armando Cruz representa a fé inabalável de uma comunidade que, através de lendas e mistérios, mantém viva a memória de um jovem trabalhador que morreu cedo demais.
Verdade ou mito, lenda ou realidade, o fato é que Armando Cruz permanece como uma figura de destaque na cultura popular de Cruz Alta. Para seus devotos, ele é um santo que realiza milagres; para os historiadores, um jovem cuja vida foi tragicamente interrompida. Seja qual for a interpretação, a história de Armando Cruz continua a fascinar aqueles que buscam respostas para o mistério de sua morte e a devoção que seu nome desperta.
Com informações: Jornalista Fernando Kopper