As enchentes que atingiram o Rio Grande do Sul desde o início de maio já resultaram na perda de pelo menos 16,9 mil colmeias, afetando gravemente a população de abelhas no estado. Em média, cada colmeia abriga entre 50 mil e 80 mil abelhas. O levantamento, que inclui dados até o dia 20 de junho, contabiliza as mortes de espécies como Apis mellifera e abelhas-sem-ferrão.
Os dados foram coletados pela Federação Agrícola e de Meliponicultura do Rio Grande do Sul, em parceria com o Observatório das Abelhas, a Empresa Brasileira de Pesquisa Agropecuária (Embrapa) e o Ministério da Agricultura e Pecuária. A destruição das colmeias foi registrada em 66 municípios do estado, com destaque para Palmares do Sul, que perdeu mais de duas mil colmeias.
“As colmeias ficaram submersas ou foram carregadas pela água. Muitas áreas foram inundadas, deixando as colmeias submersas e resultando na morte das abelhas”, explicou Betina Blochtein, coordenadora executiva do Programa Observatório de Abelhas do Brasil.
O levantamento não incluiu colmeias parcialmente atingidas ou aquelas em risco devido à falta de alimentos. Segundo a Associação Brasileira de Estudo das Abelhas, o Rio Grande do Sul possui um total de 486 mil colmeias.
“A paisagem está coberta de lodo e terra, sem vegetação com flores, o que resulta na falta de alimentação para as abelhas”, destacou Blochtein. A bióloga também alertou que a quantidade real de abelhas mortas pode ser muito maior, já que apenas as espécies monitoradas foram contabilizadas.
Espécies de abelhas não sociais, que não vivem em colmeias, são mais frágeis e provavelmente foram ainda mais impactadas pelas enchentes. “Essas abelhas não têm reservas de alimento e são mais sensíveis, tendendo a perecer mais facilmente”, afirmou Blochtein.
As abelhas desempenham um papel crucial na polinização, que é essencial para a produção de alimentos. Segundo o Relatório Temático sobre Polinização, Polinizadores e Produção de Alimentos no Brasil, 76% das plantas para consumo humano no Brasil são polinizadas por abelhas. A polinização não só aumenta a produtividade dos cultivos, mas também melhora a qualidade dos frutos e sementes.
O Rio Grande do Sul é responsável por 45% da produção de maçãs no Brasil, uma cultura que depende fortemente da polinização por abelhas. Além da maçã, outras culturas no estado, como a soja, também dependem da polinização, embora em menor grau.
A bióloga Vera Lucia Imperatriz Fonseca, pesquisadora da USP, enfatiza a necessidade de adaptação às mudanças climáticas. “As mudanças climáticas estão aumentando e não há uma política adequada para lidar com isso. A agricultura e o mercado precisam se conscientizar da urgência de medidas de restauração”, afirmou.
Com informações: Jornalista Fernando Kopper
Fonte: Agência Brasil
