Em entrevista exclusiva, Andy do Oxalá aborda a questão das oferendas e ressalta a importância da preservação ambiental e do respeito às práticas religiosas
Após uma intensa controvérsia nas redes sociais acerca das oferendas realizadas por religiões de matriz africana nos trevos do município, o Babalorixá Andy do Oxalá concedeu uma entrevista esclarecedora em nossos estúdios. No último sábado, 23 de março, durante o programa Super Sábado, conduzido pelo jornalista Fernando Kopper, o religioso abordou as preocupações levantadas pelos moradores, particularmente da localidade de Benjamin Nott, no interior de Cruz Alta.
A polêmica teve início com queixas sobre o descarte inadequado de animais, como galinhas e cabritos, em oferendas nos trevos de acesso à comunidade. Segundo relatos de moradores, os restos de animais deixados ao sol geram mau cheiro e transtornos para quem passa ou reside nas proximidades.
Andy do Oxalá reconheceu a recorrência do problema e esclareceu que nem todas as casas religiosas (terreiras ou Ilês) compactuam com essa prática. "Realizamos práticas de oferendas que envolvem partes dos animais em nossos rituais, porém, nossa religião preza pela preservação do meio ambiente. Infelizmente, há religiosos que acabam profanando o nome da nossa religião com tais atitudes", explicou o Babalorixá.
O religioso destacou que já realizou diversas ações de limpeza nos locais afetados e enfatizou a responsabilidade dos líderes religiosos em orientar seus adeptos sobre a importância da manutenção da limpeza após as oferendas. "Nossas entidades representam forças da natureza, e elas não desejariam ver o meio ambiente poluído com objetos descartados. Em 2019 eu estive na localidade e pude constatar a veracidade da reclamação. Ainda na época eu fiz uma reportagem no local, pedindo que as terreiras tomassem atitudes, porém o problema persiste nos dias atuais", acrescentou.
Sobre o sacrifício de animais em cultos religiosos, Andy do Oxalá ressaltou que essa prática é respaldada pela lei brasileira, conforme o artigo 5º, VI da Constituição Federal, que assegura o livre exercício dos cultos religiosos. Ele enfatizou que a ritualística é realizada com respeito, e que partes dos animais sacrificados são utilizadas nas oferendas, enquanto o restante é preservado e utilizado na alimentação dos religiosos e na doação para comunidades carentes.
Por fim, o Babalorixá fez um apelo à comunidade de vertentes e matriz africanas para que sejam exemplos de respeito ao meio ambiente e às práticas religiosas. "Nossa religião sempre foi perseguida e incompreendida por muitos. Precisamos dar o exemplo e orientar nossos adeptos para evitar situações como essa", concluiu Andy do Oxalá.
O debate em torno das oferendas religiosas nos trevos do município continua a gerar discussões entre os moradores e membros das religiões de matriz africana. Enquanto alguns expressam sua indignação com o que consideram uma prática inadequada e prejudicial ao ambiente, outros defendem o direito constitucional à liberdade religiosa e ressaltam a importância cultural e espiritual das oferendas.
A questão levanta não apenas preocupações ambientais, mas também questões de tolerância religiosa e coexistência pacífica entre diferentes crenças e práticas. Como a comunidade pode encontrar um equilíbrio entre o respeito ao meio ambiente e a liberdade de culto religioso? Esta é uma pergunta que continua a ecoar nos corredores virtuais e nas conversas cotidianas dos habitantes locais.
Enquanto isso, líderes religiosos, autoridades municipais e membros da comunidade trabalham juntos para encontrar soluções que promovam o respeito mútuo, a preservação ambiental e a liberdade religiosa, buscando um entendimento que atenda aos interesses e valores de todos os envolvidos.
Com informações: Fernando Kopper