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PÓS-PANDEMIA: 45% das mulheres mostram algum tipo de transtorno mental
30/08/2023 12:01 em SAÚDE

Um novo relatório intitulado “Esgotadas: empobrecimento, a sobrecarga de cuidado e o sofrimento psíquico das mulheres”, desenvolvido pela ONG Think Olga, trouxe à tona preocupantes revelações sobre a saúde mental das mulheres brasileiras no cenário pós-pandemia. Segundo os dados apresentados, 45% das mulheres no Brasil estão enfrentando diagnósticos de ansiedade, depressão ou outros transtornos mentais após a pandemia de covid-19. O estudo, que envolveu 1.078 mulheres de todas as regiões do país entre os dias 12 e 26 de maio de 2023, destaca a persistência da ansiedade como o transtorno mais comum, afetando 6 em cada 10 mulheres.

Maíra Liguori, diretora da Think Olga, comentou que o relatório reflete uma realidade já conhecida, ressaltando que as mulheres estão enfrentando exaustão e sobrecarga. Ela destacou que quase metade das mulheres apresenta algum tipo de transtorno mental, mas com acesso limitado a cuidados especializados. As ferramentas frequentemente utilizadas para lidar com essas questões incluem atividade física e religião. Entre os principais fatores de pressão sobre a saúde mental feminina, a questão financeira e as responsabilidades da dupla ou tripla jornada se destacam.

O estudo se propôs a entender as estruturas que contribuem para o sofrimento das mulheres na atualidade, abordando desde a sobrecarga de trabalho e insegurança financeira até o esgotamento mental e físico decorrente da chamada “economia do cuidado”. Essa economia envolve todas as atividades relacionadas aos cuidados com a casa e à produção e manutenção da vida.

As condições financeiras e a habilidade de equilibrar diferentes aspectos da vida receberam as menores avaliações de satisfação entre as entrevistadas. Em uma escala de 1 a 10, a satisfação com a vida financeira alcançou 1,4, enquanto a capacidade de equilibrar diferentes áreas da vida recebeu 2,2. O aperto financeiro afeta 48% das entrevistadas, e 32% delas estão insatisfeitas com a remuneração. A insatisfação financeira é mais prevalente entre mulheres das classes D e E (59%) e entre mulheres negras (54%).

O relatório também destaca que 38% dos lares têm mulheres como únicas ou principais provedoras. A maioria delas é negra, pertencente às classes D e E, e possui mais de 55 anos. Apenas 11% das entrevistadas disseram não contribuir financeiramente para suas famílias.

O trabalho doméstico e a jornada excessiva de trabalho foram identificados como a segunda causa de insatisfação mais comum, logo após as preocupações financeiras. Enquanto as mulheres gastam em média 21,4 horas por semana em tarefas domésticas e de cuidado, os homens dedicam apenas 11 horas a essas atividades.

Com 86% das mulheres considerando que têm uma carga excessiva de responsabilidades, a pesquisa mostrou que as mães solteiras e cuidadoras estão mais sobrecarregadas em comparação com aquelas sem essas responsabilidades. Para muitas, a sobrecarga de cuidado também se traduz em impacto financeiro, contribuindo para a chamada “feminização da pobreza”.

Os padrões de beleza impostos impactam negativamente a saúde mental de 26% das mulheres mais jovens entrevistadas, enquanto 16% mencionaram o medo de sofrer violência como uma preocupação.

Diante desses resultados, 91% das entrevistadas consideram a saúde emocional uma prioridade, e 76% estão buscando ativamente cuidar de sua saúde mental, principalmente após a pandemia de covid-19. Apenas 11% afirmaram não cuidar de sua saúde emocional de nenhuma maneira.

Nana Lima, co-diretora da Think Olga, enfatizou a importância de compreender o impacto do trabalho de cuidado e suas consequências, enquanto também destaca a necessidade de desestigmatizar tabus sobre a saúde mental. Ela ressaltou a importância de ações do setor público e privado para construir um futuro mais viável para as mulheres.

Rádio Cidade/Jornal Tribuna

Fonte: Agência Brasil

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