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Diretores das Lojas Americanas venderam suas ações meses antes da revelação do rombo de 20 bilhões de reais na empresa
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Publicado em 14/01/2023

No segundo semestre de 2022, de acordo com documentos publicados pela própria Americanas em seu portal de relacionamento com investidores, antes das “inconsistências” de R$ 20 bilhões no balanço da empresa serem informados pela nova gestão, diretores da companhia venderam mais de R$ 210 milhões em ações da empresa.

O ex-CEO da Americanas, Sergio Rial, que renunciou após nove dias no cargo e revelou a discrepância de R$ 20 bilhões no balanço da companhia, informou a investidores que a empresa terá que republicar resultados financeiros de trimestres anteriores. E que a prática contábil que originou o problema de R$ 20 bilhões, conhecida no mercado como “risco sacado”, era usada há muito tempo, remontando talvez a até 10 anos.

Após o problema vir à tona, analistas do mercado viram com ressalvas os dados de venda de ações por diretores da Americanas nos últimos meses.

“A diretoria vendeu muitos papéis da própria empresa. Isso nos faz crer que era algo que sabiam e não reportaram. Além disso, na call (videoconferência feita com investidores), Rial deixou escapar que talvez não existisse uma vontade dos administradores de falar sobre o problema”, observa Pedro Menin, sócio-fundador da casa de análise financeira Quantzed.

Para João Frota, estrategista em renda variável da Senso Corretora, a hipótese de que o erro contábil tenha ocorrido por uma década, como disse Rial, enfraquece a tese de que se tratava apenas de um possível deslize no balanço. Victor Bueno, analista da Nord Research, ressalta que o fato de a inconsistência não ser algo isolado preocupa: “Isso já vem sendo contabilizado há vários anos. É muito cedo para falar de fraude contábil, mas como não apareceu antes, para membros da empresa ou para a auditoria?”, questionou.

A Moat Capital, gestora com sede em São Paulo e que tinha cerca de 2,86% do capital de Americanas (25,8 milhões de ações) em setembro do ano passado, segundo a Bloomberg, disse ao jornal O Globo ter sido surpreendida pelo fato relevante da companhia.

“Faremos tudo o que estiver ao nosso alcance para garantir e resguardar nossos direitos como acionista minoritário e em defesa dos nossos investidores”, declarou em nota.

Os documentos publicados no portal de relacionamento com investidores da Americanas que mostra a venda das ações não especifica os nomes da diretoria que fizeram essas operações.

Na quinta-feira, a Comissão de Valores Mobiliários (CVM, que regula o mercado de capitais brasileiro) abriu dois processos contra a Americanas para obter explicações a respeito das informações contábeis, dos fatos relevantes e dos comunicados emitidos pela empresa.

O BNDES, um dos credores da empresa, informou ter duas operações ativas com a Americanas, mas não está exposto a risco pois há fiança bancária como garantia. Ainda assim, pedirá esclarecimentos.

O Ministério Público Federal de São Paulo abriu procedimento para averiguar a possível negociação de ações da Americanas por pessoas com informações privilegiadas sobre a situação da empresa. Esse tipo de operação financeira é chamada de “insider trading” e é crime.

Por isso, o MPF de São Paulo decidiu instaurar nesta sexta-feira (13), um procedimento prévio – chamado de “notícia de fato” – para a coleta de elementos iniciais sobre o caso.

Proteção liminar

A Americanas pediu e conseguiu no Tribunal de Justiça do Rio (TJ-RJ) proteção liminar contra credores que queiram antecipar o pagamento de dívidas. O juiz Paulo Assed, da 4ª Vara Empresarial do TJ-RJ, concedeu nesta sexta-feira (13) uma “tutela cautelar antecedente”, em caráter urgente, para suspender vencimentos antecipados e todos os demais efeitos de inadimplência da companhia. O processo corre em segredo de justiça. Segundo a decisão, a companhia estimou que poderia ter R$ 40 bilhões em dívidas vencendo no curto prazo. O magistrado deu 30 dias corridos para a Americanas entrar com um pedido de recuperação judicial. As informações são dos jornais O Globo e O Estado de S. Paulo e da CNN.

Foto:Divulgação

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