O juiz Orlando Faccini Neto incluiu, ainda, uma testemunha do Ministério Público. Miguel Ângelo Teixeira Pedroso deve ser o primeiro a depor no período da tarde. Ele é um engenheiro que teria desaconselhado o uso da espuma isolante na casa noturna.
A expectativa do Ministério Público e dos advogados dos quatro réus é que as oitivas sejam menos extensas que as do primeiro dia. Só a primeira sessão, que ouviu a ex-funcionária da casa noturna Kátia Giane Pacheco Siqueira, foram 4h30 de depoimentos.
“Está acontecendo o que imaginava. Um julgamento com depoimentos muito longos, perguntas, na minha opinião, desnecessárias. Nós tínhamos uma mulher grávida, [que] estava cansada, não aguentava mais perguntas repetitivas. Mas entendo que o depoimento foi superimportante e trouxe pontos essenciais”, disse a promotora Lúcia Helena Callegari.
Já Kelen Ferreira, jovem que ficou 78 dias internada, amputou parte da perna direita e teve 18% do corpo queimado, depôs por mais 1h50.
“A última vez que eu corri foi para tentar me salvar da morte”, disse.
Ela respondeu a questionamentos do juiz-presidente e do Ministério Público. As defesas se abstiveram de perguntar e encerram a oitiva às 22h10.
Nesta etapa, 14 sobreviventes são questionados pelo juiz, pelo MP-RS, pelo assistente de acusação e pelos defensores dos réus, nessa ordem. Os outros sete devem ser ouvidos nos dias seguintes.
“Quando chegou nas partes das defesas, [que] são quatro, o que acaba alongando um pouco. Acreditamos que, na sequência, vá diminuir a quantidade de perguntas, aumenta o ritmo e é possível que mais pessoas sejam ouvidas”, opina Jader Marques, advogado do réu Elissandro Spohr.
Kelen Giovana falou do processo de luto durante os quase nove anos após a tragédia. A sobrevivente criticou um documentário produzido pela defesa de um dos réus, em que ele fala sobre o processo.
“Dor não é gravar um vídeo e chorar. Dor é passar esses oito, quase nove anos, o que eu passei lá dentro, o que eu passo na minha pele, o que eu passo andando na prótese. Machuca. Isso é dor. Dor é quando eu olhei muito tempo no espelho e chorei por ter ficado assim”, desabafou.
Antes dela, a ex-funcionária da Kiss Kátia Giane Pacheco Siqueira, que trabalhava no bar e na cozinha do local, disse que a boate estava lotada e trabalhou intensamente naquela noite.
“Estava cheio porque eu não parei um minuto. Normalmente, quando a festa não dava movimento, o gerente pegava e dispensava tantos funcionários. Era festa de turma de faculdade [no dia do incêndio], normalmente enchia de gente”, relatou.
O dia ainda foi marcado ainda pela definição do Conselho de Sentença. Os sete jurados — seis homens e uma mulher — foram definidos no fim da manhã.