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Irmãs Alto-alegrense e Espumosense em missão na África
NOTICIAS
Publicado em 29/04/2021

Deixar família, amigos, emprego para atender ao chamado missionário não é tarefa fácil. Mesmo diante da dor da separação, o missionário deixa tudo para levar a palavra de Deus.

Chegando ao seu destino encontra outros fatores como a cultura local e situações políticas e econômicas que pesam no dia a dia do missionário que muitas vezes não atua só com a evangelização, mas também com trabalhos sociais que servem para aproximá-lo da população.

Devotas a essa convicção as missionárias adjacentes Elisabete Corazza e Miriam Therezinha Rotta da Congregação Filhas de São Paulo, conhecidas como Irmãs Paulinas, naturais de Alto Alegre e Espumoso cumprem a missão de evangelizar e disseminar a Palavra do Senhor, atualmente encontram-se em missão em Luanda, capital da Angola.


   

 

História e Trajetória Missionária

Irmã Elisabete nasceu em Alto Alegre, e vem de uma família religiosa. Sua irmã mais velha,     Elóine Corazza também é religiosa, e entrou para a Congregação antes que Elisabete. Além de Elóine, têm mais duas tias, da mesma Congregação, que seguiram o mesmo caminho, as Irmãs Odila e Helena, bem como outras primas.

Pela segunda vez Elisabete passa pela mesma experiência, no mesmo país. Entre os anos de 2001 e 2005 ela esteve pela primeira vez no Continente Africano, retornando a Angola pela segunda vez em abril de 2018.

 

    “Ser missionária é isso, é se colocar à disposição daquilo que o Senhor nos pede, e é Ele que nos envia sempre”, diz Irmã Elisabete.

 

A missionária desenvolve diretamente o trabalho de Formação Bíblica através de um projeto do Serviço de Animação Bíblica, SAB. Usando esse projeto "Bíblia em Comunidade" ela trabalha na capital com vários grupos de formação bíblica. No momento, na primeira etapa há cinco grupos que fazem a "Visão Global da Bíblia", na segunda são dois grupos de "Teologia Bíblica".

 

"Essa é a beleza, ver a palavra de Deus. Presenciar a formação, e favorecer uma fé mais sólida para enfrentar os desafios na vida, missão e na sociedade".

 

Além desse trabalho, Irmã Elisabete participa da Comissão da Pastoral Bíblica da Conferência Episcopal de Angola e São Tomé (CEAST). Também ocupa-se lecionando no seminário "Sagrado Coração de Jesus", da Arquidiocese de Luanda, onde trabalha com escritos paulinos.

 

"Dedico-me nessa dimensão formativa dentro disso. Trabalhar com a palavra de Deus, conhecer melhor o Apóstolo Paulo e seus escritos que teve uma grande amor a Deus e o povo".

 

Para acrescentar, Elisabete participa de vários grupos menores da "Leitura Orante da Palavra de Deus", desenvolvendo ainda encontros de formação e preparação dos valores humanos e cristãos com jovens.

Já a Irmã Miriam, de 84 anos, é natural de Espumoso e ingressou na Congregação das Irmãs Paulinas em fevereiro de 1953.

Iniciou a vida missionária primeiramente no Brasil, anunciando a Palavra de Deus em São Paulo e Minas Gerais. Em 1970 foi enviada a  Lisboa- Portugal e lá permaneceu por 10 anos. Durante este tempo esteve na cidade da Beira, em Moçambique. Nesse período visitou a cidade de Luanda,  capital de Angola, para uma possível fundação de uma casa paulina. Em missão em Portugal permaneceu 10 anos, regressando depois ao Brasil onde ficou por três anos.

Em 1984, voltou a Portugal e depois de 8 anos foi enviada a Macau onde se estabeleceu por 14 anos. Neste tempo,  sempre em missão, esteve quatro vezes em Singapura e quatro vezes em Manila-Filipinas. A pedido de   sua   Superiora Geral foi enviada à Indonésia – Ilha das Flores, onde esteve na capital, Ende entre outras  cidades. Também visitou Timor Leste. Todas as viagens feitas por Ir. Miriam foram para estudar a possibilida-   de da fundação   de   novas Casas das Irmãs Paulinas, como resposta ao pedido dos bispos.

Após esse período, retornou a Portugal onde se estabeleceu por mais seis anos. Visitou a Rússia visando     colaborar   com   as irmãs daquela região. De Lisboa foi enviada para Luanda onde esteve por um ano, seguindo a   Moçambique   onde   ficou por seis anos. Sempre a serviço das irmãs e da comunidade passou por Nairobi,   Madagascar e Costa da   Marfim.

Com anos de caminhada na evangelização, Irmã Miriam participou de diversos projetos junto às Irmãs   Paulinas  no favorecimento da comunidade. Alguns trabalho foram:

        Em Portugal na Estruturação do Secretariado de Comunicação Social Nacional e da Diocese de Lisboa;

       Projeto “Semanas Bíblicas" nas Paróquias  da Ilha da Madeira e a nivel nacional;

       Semana da Vida Consagrada a nível nacional  em Fátima;

       Cursos de animação e aprofundamento dos valores da Vida Consagrada dos professos jovens;

       Fundação e membro da Cooperativa de Audiovisuais Logomédia da CIRP ;

       Missão itinerante das Filhas de São Paulo a nível nacional;

        Projeto “Tens a lei e os profetas-  estudo e aprofundamento  da Palavra de Deus” transmitido por duas estações de rádio da Ilha da Madeira;

       Em Macau na fundação e consolidamento do Grupo de Escuteiros Portugueses (Gelmac) e no qual foi designada pelo bispo como assistente religioso;

        Na equipe das Irmãs Paulinas  no projeto "Evangelização nas escolas portuguesas e chinesas”;

 

  “Minha vida missionária além de prestar o serviço à comunidade diocesana e paroquial e a todas as pessoas que se   dirigiam às nossas   livrarias e encontrava-as na missão itinerante,  dediquei-me à minha comunidade religiosa. Todos   estes serviços deram-me sempre muita   prazer e alegria, pois ao visitar as famílias, ouvir as pessoas com as suas dores e   sofrimentos e com as minhas irmãs organizar os   projetos de evangelização, tinha a possibilidade de apresentar a pessoa   de Jesus, o seu pensamento e o seu conforto aos que sofrem”.

 

 Agora, em 2021, Irmã Miriam encontra-se em Luanda novamente. Junto às irmãs anuncia a Palavra de Deus dentro da  missão paulina.

 

Missão de fé em Angola  

O país em que as Irmãs Elisabete e Miriam desenvolvem o trabalho ligado à evangelização é a Angola. Localizado no continente Africano, que possui 54 países independentes, Angola está na África Austral, para se ter uma ideia, a extensão geográfica de Angola é de 1246700 km quadrados. É o 7º maior país em extensão, e entre suas maiores riquezas são seus 82 rios. Muitos países da África são desérticos, e não possuem a mesma extensão de rios de Angola.

A extensão do país pode ser comparada ao estado do Pará, no Brasil. " Como eu trabalho na área bíblica vou fazer uma comparação com Israel. O país de Israel cabe dentro do Brasil em torno de 420 vezes e Angola em torno de 50 vezes", explica a Irmã Elisabete. Em população, o país registra quase 32 milhões, segundo dados do Banco Mundial de 2019.

As Irmãs Paulinas coordenam duas livrarias na capital, Luanda. O grupo chegou ao país em 1999. A primeira livraria também era a única Católica do país na época.

Além da parte religiosa, as livrarias dão ênfase às áreas humanas, dispondo de materiais voltados à psicologia, pedagogia, administração, direito, saúde, comunicação, além dos livros religiosos de teologia e formação ligada à família e juventude.

 

 

 

Missão de Fé e Processo de Evangelização 

Angola possui várias etnias e entre elas algumas se destacam, como Ovimbundu, Ambundo e Bakongo. Dispondo de mais de 20 línguas nacionais e 50 dialetos, seu idioma oficial é o português.

O país esteve em Guerra pela Independência de 1961 a 1974 contra o poder colonial português e de 1975 até 2002 em uma Guerra Civil, que chegou ao fim com o acordo de paz assinado no dia 4 de abril entre o Governo do Movimento Popular de Libertação de Angola e a União Nacional para a Independência Total de Angola as duas formações políticas que tinham mais influência no país.

 

"Estamos em um país bastante rico, sem dúvida, rico no petróleo e diamante, porém temos que lembrar que passamos por muitas guerras, guerras recentes. Angola é um país muito devastado pela situação da guerra, então um desafio vamos dizer assim, para evangelização é trabalhar uma reconciliação em rede nacional, porque são muitas situações de feridas, destruição em vários níveis. Temos um desafio muito grande na área da educação e da saúde. Nessa diferença grande entre ricos, temos também a questão financeira. A população é muito grande na área de católicos, mas nisso tudo, acaba sendo desafiador as diferenças sociais”, comenta Elisabete.

 

Outra questão apontada pela Irmã, é que na hora de evangelizar um elemento que ajuda muito  são os meios de comunicação, através do rádio, um elemento muito forte na região.

 

“As TVs ainda são poucas. O que ajuda muito na evangelização é a Rádio Ecclésia que é a rádio da conferência dos bispos, a CEAST e a Rádio Maria”.

 

Com essa missão, as Irmãs interpelam o avanço da técnica  dos novos meios de comunicação. “Nas terras de missão estes meios atingem as pessoas e são usados em grande força. Hoje, os celulares são mais comprados e usados  nos países africanos do que na Europa e noutros países. É para nós um grande desafio, mas estamos dispostas e acreditamos que estes novos meios  nos dão uma grande oportunidade de evangelizar”, destaca Miriam.

Os processos de comunicação na hora de evangelizar são aprimorados de acordo com a situação e realidade de cada país.

 

“Como tive a oportunidade de estar em diversos países, com toda a segurança, posso afirmar; em todos eles a Igreja descobre a forma de evangelizar com os novos meios. Dependendo do avanço da técnica nestes países o caminho poderá ser mais rápido. Mas sempre há pessoas abertas e prontas, mesmo numa forma muito rudimentar usa os novos meios e atinge muitas pessoas. Quando encontramos pessoas de coração aberto  e dispostas há um novo caminho por parte dela, a evangelização faz-se com muito prazer. De parte do missionário  tem que haver uma mente e um coração muito aberto e assumir os valores da cultura deste povo que são sempre muito grandes e nos ensinam muito. Mais aprendemos do que ensinamos. O maior desafio é  estar atento ao que a cultura, o povo e a fé deste povo te revela”, explica. 

 

            

 

Pandemia em Angola

Algo que se destaca no país é que felizmente Angola está em uma situação muito diferente de outros países  comparando ao Brasil, na questão da pandemia. O país registrou desde o início da pandemia mais de 23 mil casos positivos, com aproximadamente 22 mil recuperados e mais de 550 mortes.

Poucos casos são registrados por dia, assim como mortes pela Covid-19. A razão pelos baixos registros ainda não são precisos, mas pode girar em torno das medidas fortes e drásticas que o governo tomou na contenção da propagação do vírus. Segundo a Irmã Elisabete, as Escolas, Igrejas e as fronteiras aéreas, marítimas e terrestres foram fechadas, de março a outubro de 2020, e no Mês de Abril de 2020 funcionaram apenas os serviços essenciais como saúde e alimentação.

 

 " Isso tudo ajudou a conter o vírus até o momento, com a colaboração das organizações não governamentais e Igrejas. Podemos dizer que a Covid-19 atingiu a "elite da população", mas não atingiu a população em geral, pois se atingisse, seria uma grande catástrofe, já que o sistema de saúde aqui é muito precário". 

 

O país, assim como outros do continente africano, é assolado por doenças como a malária, febre tifóide e também a AIDS. " O povo já sofre demais outros males", lamenta a Irmã.

Desde de outubro de 2020, a situação do Coronavírus no país foi se estabilizando, e a volta dos serviços antes em recesso voltaram. Diferente de outros lugares, atividades como aulas e os cursos bíblicos, como destaca a Irmã, não foram adaptados ao formato a distância, sob a utilização da internet. Isso porque a internet no país é limitada e de alto custo para a população em geral. Dessa forma, de março a outubro, faculdades, escolas e instituições de ensino não funcionaram.

 

"Felizmente depois da volta às aulas em outubro não tivemos nem uma incidência de tipo algum. Não tivemos registros de que uma escola tivesse que ser fechada por causa da pandemia".

 

Um desafio enfrentado durante o período pandêmico é a questão relacionada à escassez da água e alimentação, o acesso básico é limitado e muito depende-se das importações. "Mesmo assim, em relação à pandemia, posso dizer que estamos bem mais confortáveis", conclui Elisabete. 

   

    

 

 

Mensagem de fé e esperança 

 

Mensagem da Irmã Elisabete Corazza.

“Quero dizer que nesse momento que vivemos ainda a experiência Pascal, o que podemos perceber é que a vida em Jesus sempre é mais forte que os sinais de morte. Que essa experiência de Jesus Crist, que vai ao túmulo mas não permanece lá, é uma experiência que nos faz então ressignificar as nossas dores e as nossas cruzes. Que possamos diante de tantas situações de dor,de perda, separação e de isolamento confiar que o Senhor é o soberano, Ele é maior que tudo. Que tenhamos e cultivemos sempre a fé e a esperança. Mesmo no meio da dor mantenha a paz e aquele sorriso que nasce da Fé, de pessoas de fé que sabem que estão vivendo uma situação difícil, mas de passagem. Temos essa certeza que dias melhores virão, porque “tudo posso naquele que me conforta, naquele que me fortalece” (Fl 4, 13), como exortou o Apóstolo São Paulo”.

 

Mensagem da Irmã Miriam Therezinha Rotta.

“A minha terra natal sempre foi um grande estímulo, pois o meu povo, o povo espumosense ama e vive os valores do Evangelho e quando vou de férias sinto estes estímulos. Neste tempo de pandemia vivemos com muita esperança e com a certeza que o Senhor não nos abandona  e cabe a cada um de nós dar a colaboração que é necessária para o bem de todos. Eu confio no empenho de cada um. Bem haja!”. 

 

 

Reportagem: Luana Paixão, Acadêmica de Jornalismo da Universidade de Cruz Alta. 

 

 

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