No contexto atual, em que celulares, tablets, computadores e televisores estão presentes em praticamente todos os lares, o uso das telas se tornou parte da rotina das famílias. No entanto, o que começou como uma ferramenta de praticidade e entretenimento passou a exigir atenção e cuidados. Durante entrevista , a psicóloga Joselaine Lima Nicolini detalhou os riscos do uso excessivo de tecnologia por crianças e adolescentes e reforçou a importância do acompanhamento dos pais.
Segundo a profissional, a dependência das telas começa, muitas vezes, dentro da própria casa, a partir do exemplo dos adultos. “As crianças seguem padrões. Se os pais passam muito tempo no celular, elas vão repetir esse comportamento”, explicou. Para a especialista, a cultura de oferecer o celular como forma de acalmar ou distrair as crianças transformou o aparelho em uma espécie de “recurso automático”, o que está diretamente ligado ao desenvolvimento de vícios semelhantes aos observados no consumo de álcool ou tabaco.
As recomendações de saúde seguem diretrizes claras: até os 2 anos de idade, o uso deve ser zero; entre 2 e 5 anos, no máximo uma a duas horas por dia, sempre com supervisão; e, após essa fase, o ideal é que o tempo de tela permaneça limitado e monitorado até a adolescência. O uso prolongado pode desencadear uma série de problemas, como miopia, distúrbios do sono, irritabilidade, dificuldades de socialização, atraso na fala e aumento da agressividade.
Durante a entrevista, a psicóloga destacou que muitos dos atendimentos infantis no consultório têm relação direta com o uso descontrolado de telas. “Quando investigamos o comportamento, quase sempre chegamos à rotina digital”, afirmou. Joselaine citou ainda situações em que a retirada do celular provoca reações intensas. Em alguns casos, o processo de desmame das telas se assemelha a um período de abstinência, podendo exigir semanas de adaptação e, em casos mais graves, acompanhamento médico.
Outro ponto levantado foi a falsa impressão, presente em parte das famílias, de que alterações comportamentais estão automaticamente ligadas a diagnósticos como autismo ou TDAH. “Muitas crianças estão sendo rotuladas sem avaliação adequada. Há casos em que o problema não é um transtorno, mas sim o uso excessivo de telas”, alertou.
A psicóloga reforçou, ainda, que a educação passa necessariamente pela presença e pelo exemplo dos responsáveis. Atividades simples, como brincar ao ar livre, jogar bola, compartilhar momentos em família sem celular à mesa e reduzir o acesso às telas antes de dormir, podem contribuir para o desenvolvimento emocional, cognitivo e social das crianças. “É preciso resgatar o contato real. As relações estão se tornando superficiais quando tudo é mediado por uma tela”, completou.
Para famílias que buscam orientação, Joselaine atende no espaço Prôvida, em Espumoso, nas segundas e quintas pela manhã e nas sextas-feiras. O agendamento pode ser realizado diretamente na recepção do local.
A profissional também disponibiliza seu contato e rede social para esclarecimento de dúvidas e orientações. A mensagem final é clara: tecnologia faz parte da vida moderna, mas precisa ser usada com responsabilidade. Limitar, acompanhar e estar presente são atitudes fundamentais para que o desenvolvimento das crianças aconteça de forma saudável, equilibrada e sem prejuízos emocionais e comportamentais.
Rádio Cidade/TC
Jornalista Fernando Kopper