O trânsito no Rio Grande do Sul está mais vigiado — e também mais infrator. Dados divulgados pelo Departamento Estadual de Trânsito (DetranRS) revelam que o número de autuações aumentou 71,3% entre janeiro e abril nos últimos cinco anos. Em 2021, foram registradas 976.075 infrações no período. Em 2025, o número saltou para 1.672.017.
O avanço da fiscalização eletrônica, especialmente por meio de radares e sistemas automatizados, tem contribuído para o aumento das autuações. No entanto, o dado também evidencia a persistência de comportamentos de risco entre motoristas gaúchos, principalmente o excesso de velocidade — a infração mais comum no Estado. Em segundo lugar, porém, surge um novo problema: a evasão de pedágio nas rodovias com sistema de livre passagem, o chamado free flow.
Se em 2023 foram pouco mais de 2,8 mil autuações por evasão de pedágio, em 2024 esse número explodiu para 468 mil. Entre janeiro e abril de 2025, já foram 206.953 multas aplicadas por essa infração — mais de 70 vezes o total registrado há dois anos.
A Secretaria Extraordinária da Reconstrução Gaúcha, responsável pela articulação com as concessionárias de rodovias, afirma que está adotando medidas para reduzir o número de evasões, como o aumento do prazo para pagamento das tarifas, que passou de 15 para 30 dias em outubro de 2024. Ainda assim, a diretora institucional do DetranRS, Diza Gonzaga, aponta que muitos motoristas sequer percebem que passaram por um pórtico.
— É uma infração que sequer existia até pouco tempo. Muitos condutores não prestam atenção ou desconhecem o funcionamento do sistema. Precisamos reforçar as campanhas de conscientização — explica Diza.
As infrações mais cometidas no RS
Entre os dez artigos mais autuados no Código de Trânsito Brasileiro, além do excesso de velocidade, estão: evasão de pedágio, não identificação de condutor por pessoa jurídica, veículo em condição irregular, dirigir sem habilitação, estacionamento proibido, falta de cinto de segurança, não registrar ou transferir o veículo, uso do celular ao volante e avanço de sinal vermelho.
Segundo Diza Gonzaga, o celular ao volante segue como uma das principais ameaças à segurança no trânsito.
— A diferença é que o uso do celular é uma escolha consciente. Não é falta de conhecimento da regra. Temos menos flagrantes de alcoolemia, o que mostra que a educação funciona. Precisamos do mesmo empenho contra o uso do celular — afirma.
Rodovias mais fiscalizadas
As rodovias RS-239, RS-453, RS-122 e RS-287, especialmente em trechos de Sapiranga, Gravataí e Bom Princípio, lideram o ranking de autuações por excesso de velocidade. O Comando Rodoviário da Brigada Militar (CRBM) afirma que 50 radares móveis operam nas estradas estaduais, sendo posicionados com base em critérios técnicos e dados de sinistros.
Apesar da modernização prevista de alguns equipamentos, não há aumento planejado no número de radares em operação.
Embora o número de autuações por excesso de velocidade tenha caído cerca de 4% entre os primeiros quatro meses de 2024 e 2025, os acidentes de trânsito cresceram 12% no mesmo período. O comandante do CRBM atribui parte desse aumento ao crescimento da frota e ao comportamento cada vez mais apressado dos condutores.
— Rodovias melhores e veículos mais potentes favorecem o excesso de velocidade. É o atropelo da vida moderna que faz o condutor adotar um comportamento de risco — alerta.
Somente entre janeiro e abril deste ano, mais de 22 mil motoristas e quase 11 mil passageiros foram flagrados sem cinto de segurança nas rodovias estaduais. A negligência, segundo o CRBM, continua sendo um dos principais agravantes em casos de acidentes com lesões graves.
Além da fiscalização, o DetranRS e o CRBM seguem investindo em educação para o trânsito. Uma das iniciativas é a Escolinha de Trânsito, voltada para crianças da rede escolar, com atividades lúdicas que visam formar futuros condutores mais conscientes — e influenciar também os pais.
— Não é só a multa que resolve. Precisamos de uma mudança cultural que comece na infância. A pandemia parece ter deixado uma herança de desatenção no trânsito. Precisamos reconquistar esse senso de responsabilidade coletiva — defende Diza Gonzaga.
O CRBM reforça que dirigir exige foco, atenção plena e respeito às normas. Usar o cinto, respeitar os limites de velocidade e não manusear o celular são atitudes básicas, mas que salvam vidas.
— O condutor precisa ter consciência do impacto de suas escolhas. Nossa mensagem é clara: o celular não vale uma vida — conclui o comandante.
Com informações: Jornalista Fernando Kopper