O tenente-coronel Mauro Cid, ex-ajudante de ordens do ex-presidente Jair Bolsonaro, prestou depoimento à Polícia Federal na manhã desta sexta-feira, 13, em Brasília. Ele chegou à sede da PF pouco antes das 11h, horário marcado para o início da oitiva. O foco do interrogatório foi a suposta tentativa de obtenção de cidadania portuguesa, o que, segundo investigações, poderia estar ligado a uma intenção de deixar o Brasil de forma definitiva.
A convocação de Cid ocorre após o procurador-geral da República, Paulo Gonet, enviar representação ao Supremo Tribunal Federal (STF) solicitando buscas contra o militar. O pedido foi motivado pela informação de que familiares de Mauro Cid deixaram o país recentemente. Mais cedo, ele chegou a ser alvo de uma operação da PF, que inicialmente previa sua prisão. No entanto, o mandado foi revogado pelo STF horas depois, conforme informou a defesa.
De acordo com as investigações, Mauro Cid teria contado com o apoio do ex-ministro do Turismo, Gilson Machado, para tentar obter a cidadania portuguesa. Gilson foi preso pela Polícia Federal na manhã desta sexta-feira, em Recife (PE), no desdobramento da mesma operação.
Delator em investigações sensíveis
Tenente-coronel do Exército, Mauro Barbosa Cid exerceu papel central durante o governo Bolsonaro, com livre acesso ao Palácio do Planalto e ao Palácio da Alvorada. Ele é um dos principais delatores da investigação da Polícia Federal sobre a tentativa de golpe de Estado para impedir a posse de Luiz Inácio Lula da Silva, em janeiro de 2023. Apesar de ter firmado acordo de colaboração premiada, Cid também é réu no processo que envolve Bolsonaro, militares e ex-integrantes do governo.
Em sua delação, Mauro Cid revelou que Bolsonaro recebeu US$ 86 mil em espécie pela venda de relógios de luxo e outros itens do acervo da Presidência da República. Ele também afirmou que o ex-presidente desejava convencer os comandantes das Forças Armadas a aderirem a um golpe e não tomou medidas para desmobilizar os acampamentos de apoiadores em Brasília.
Depoimento ao STF sobre “minuta do golpe”
Em depoimento recente ao Supremo Tribunal Federal, na última segunda-feira (9), Cid declarou que Bolsonaro não apenas recebeu, mas também editou a chamada “minuta do golpe”. O documento previa a prisão de diversas autoridades, mas, segundo Cid, o então presidente modificou o texto para manter apenas o ministro Alexandre de Moraes como alvo.
— Ele enxugou o documento, basicamente retirando as autoridades que seriam presas. Somente o senhor (ministro Alexandre de Moraes) ficaria como preso — relatou.
Cid também mencionou repasse de dinheiro ao major Rafael de Oliveira, integrante do grupo militar conhecido como "kids pretos". Segundo ele, a quantia foi entregue no Palácio da Alvorada a pedido do general Braga Netto, candidato a vice na chapa de Bolsonaro em 2022.
— O general Braga Netto trouxe uma quantia em dinheiro, que eu não sei precisar quanto foi. Mas com certeza não foi R$ 100 mil, até pelo volume não era tanto, que foi passado para o major de Oliveira, no próprio Alvorada. Fui eu que passei esse dinheiro — afirmou Cid.
O novo depoimento desta sexta-feira representa mais um capítulo nas investigações que envolvem a cúpula do governo anterior e amplia a tensão em torno das possíveis estratégias de fuga e articulações paralelas do ex-ajudante de ordens de Bolsonaro.
Com informações: Jornalista Fernando Kopper