A produção de mel no Rio Grande do Sul deve sofrer uma queda expressiva no ciclo 2024/2025, atingindo apenas cerca de um terço da média anual, que costuma ser de 9 mil toneladas. A projeção foi apresentada nesta segunda-feira (5) durante reunião da Câmara Setorial da Apicultura e Meliponicultura, vinculada à Secretaria da Agricultura, Pecuária, Produção Sustentável e Irrigação (Seapi), e reflete os impactos das enchentes de maio de 2024, além da sequência de secas enfrentadas nos anos anteriores.
O coordenador da Câmara, Patric Luderitz, explicou que a atividade apícola já vinha fragilizada pela falta de colheitas nos dois últimos anos. “Em setembro do ano passado, as plantas não responderam e, no verão, a colheita também foi muito abaixo do esperado”, disse. Segundo ele, a chamada "safrinha de outono", entre março e maio deste ano, tem sido um pouco melhor, mas as temperaturas amenas e as chuvas em regiões como Santana do Livramento afetaram a floração dos eucaliptos, principal fonte de néctar em diversas áreas do estado.
Apesar do cenário crítico, há exceções. Conforme o zootecnista João Alfredo Sampaio, da Emater/RS-Ascar, a região dos Vales apresenta uma produção considerada excelente. “Temos uma safra bem cheia, o pessoal está produzindo bastante. Dá para ver a natureza se recuperando, o que não acontece em outras regiões”, pontuou.
Para mitigar os prejuízos, representantes do setor apontaram a necessidade de investimentos, com destaque para o papel do Parque Apícola de Taquari na recuperação da atividade no estado. O presidente da Federação Apícola do RS (Fargs), David Vicenço, também defendeu a ampliação de laboratórios que possam qualificar melhor os produtos e separar méis de baixa qualidade.
Durante o encontro, o professor da UFRGS, Aroni Sattler, ressaltou a urgência em capacitar pequenos produtores e padronizar a produção. Ele lembrou que, embora já tenham sido distribuídas 500 caixas com abelhas, o número ainda é insuficiente diante das perdas. Sattler também alertou para os riscos sanitários da possível importação de mel chileno. Segundo ele, a entrada da bactéria Paenibacillus larvae, causadora da Cria Pútrida Americana — doença da qual o Brasil está livre desde 2006 —, colocaria em risco toda a cadeia produtiva gaúcha.
A Fargs, por meio de ofício, solicitou ao Ministério da Agricultura e Pecuária (Mapa) que adote medidas rigorosas de controle sobre o mel importado, com análise lote a lote em laboratórios públicos ou privados credenciados. A entidade também pede que o Brasil utilize os mecanismos previstos na Organização Mundial do Comércio (OMC) e na Organização Mundial de Saúde Animal (OMSA) para proteger o patrimônio genético das abelhas brasileiras.
Outro ponto debatido foi a criação de um manual de boas práticas para a polinização dirigida nas lavouras, com apoio de universidades, entidades do setor e órgãos estaduais. O objetivo é orientar os produtores sobre como instalar colmeias nas culturas agrícolas, respeitando as especificidades de cada região.
O secretário da Agricultura, Edivilson Brum, participou da reunião e se colocou à disposição para apoiar as iniciativas do setor.
Com informações: Jornalista Fernando Kopper
Fonte: Correio do Povo