O fenômeno climático La Niña chegou ao fim, conforme anunciou nesta semana a Administração Oceânica e Atmosférica Nacional (NOAA), dos Estados Unidos. Embora o encerramento do evento represente uma possível retomada à normalidade climática, especialistas alertam que o impacto da estiagem no Rio Grande do Sul ainda deve persistir por mais alguns meses.
Caracterizado pelo resfriamento das águas do oceano Pacífico, o La Niña provocou alterações nos ventos e na circulação atmosférica, influenciando diretamente o clima no Estado, com o registro de um verão mais seco e quente do que o habitual. Ao todo, 310 municípios gaúchos decretaram situação de emergência por conta da falta de chuvas.
Com o término do fenômeno, inicia-se agora um período de neutralidade. Segundo Murilo Lopes, meteorologista da Universidade Federal de Santa Maria (UFSM), o Pacífico deixa de ser o principal influenciador do clima regional, dando lugar a outros fatores globais. “A gente sai de um cenário onde tinha um personagem bastante importante. Agora, quem começa a afetar o clima são os coadjuvantes”, afirma.
No entanto, a neutralidade não representa automaticamente um retorno à regularidade das chuvas. A professora Eliana Klerig, da Faculdade de Meteorologia da Universidade Federal de Pelotas (UFPel), explica que a previsão é de um outono ainda com períodos secos, intercalados por volumes concentrados de chuva. “Esses episódios podem ser intensos, mas seguidos por muitos dias sem precipitação, o que dificulta a reposição hídrica”, alerta.
Outros fatores também influenciam no cenário climático do Estado, como a temperatura do oceano Atlântico Subtropical e as concentrações de gelo na Antártica. Segundo o meteorologista Daniel Caetano, da UFSM, o aquecimento acima da média no interior do Brasil pode dificultar o avanço de frentes frias, que são responsáveis pela formação de chuvas no Sul.
Mesmo com o fim do La Niña, a situação da estiagem ainda preocupa. “As regiões Central e Oeste do Estado continuam com chuvas abaixo da média, e os volumes previstos podem não ser suficientes para reabastecer os reservatórios nem para preparar o solo para as próximas safras de verão”, afirma Caetano.
Para os próximos meses, a previsão é de que o cenário de neutralidade se mantenha até pelo menos o início da primavera. Segundo Murilo Lopes, não há indicação, até o momento, de um novo episódio de La Niña ou do fenômeno El Niño. No entanto, ele alerta que mudanças podem ocorrer, e que o monitoramento constante é essencial.
Diante do risco de continuidade da estiagem, Eliana Klerig recomenda medidas preventivas, como planejamento de contingência, construção de reservatórios e sistemas de irrigação. “Se não tivermos uma boa reposição agora, e um novo La Niña se instalar na primavera, podemos ter novamente um cenário de estiagem agravada”, conclui.
Com informações: Jornalista Fernando Kopper