Na manhã desta terça-feira, 19 de novembro, a Polícia Federal (PF) realizou uma operação que resultou na prisão de quatro militares e um policial federal, envolvidos em um plano de golpe de Estado entre a eleição de Luiz Inácio Lula da Silva (PT) e sua posse, em janeiro de 2023. A base para a operação foi uma troca de mensagens interceptadas em grupos que articulavam ações violentas para tentar desestabilizar o novo governo.
Entre os presos estão o general da reserva Mario Fernandes, ex-secretário-executivo da Secretaria-Geral da Presidência no governo de Jair Bolsonaro, e os tenentes-coronéis Hélio Ferreira Lima e os majores Rafael Martins de Oliveira e Rodrigo Bezerra de Azevedo, membros do grupo de elite das forças armadas conhecidas como "Kids Pretos". Também foi preso o policial federal Wladimir Matos Soares. Este grupo, composto por militares especializados em operações irregulares, arquitetou um plano para atacar diversas autoridades, incluindo o ministro Alexandre de Moraes, do Supremo Tribunal Federal (STF), e o vice-presidente eleito, Geraldo Alckmin (PSB), além de cogitar o envenenamento de Luiz Inácio Lula da Silva.
Conforme a investigação da Polícia Federal, as mensagens revelaram que o grupo usava o codinome "Jeca" para se referir ao presidente eleito. Entre os planos discutidos, estava a intenção de envenenar Lula, baseado em sua "vulnerabilidade de saúde", e a ideia de realizar atentados contra Moraes e Alckmin, com referências vagas sobre a execução desses assassinatos. A PF também encontrou documentos detalhados que indicavam o uso de armamentos pesados, como pistolas, fuzis, metralhadoras e até lança-granadas para a execução de um golpe militar, que foi batizado como "Operação Punhal Verde e Amarelo".
Em relação a Moraes, a PF interceptou mensagens que indicavam a intenção de executar o ministro com um enforcamento, imitando a execução de Benito Mussolini, ditador italiano, no final da Segunda Guerra Mundial. Esse tipo de plano, segundo a PF, revela a gravidade da tentativa de ruptura institucional arquitetada pelo grupo, que planejava agir imediatamente após a posse de Lula.
Os planos e armamentos discutidos nas mensagens obtidas pela Polícia Federal indicam a dimensão da preparação dos envolvidos, que estavam prontos para atuar com alto poder de fogo. No planejamento do golpe, foi registrado o interesse por armamentos de guerra, como a metralhadora M249, um lança-granadas 40 mm e um lança-rojão AT4 (bazuca), armamentos utilizados por forças militares especializadas em combate intenso. Esses itens de armamento e a própria articulação de uma operação desse porte evidenciam que a tentativa de golpe não se tratava apenas de uma insurreição, mas de um plano orquestrado com apoio de forças especializadas.
A investigação também revelou que o general Mario Fernandes, em documento anexado a um dos celulares, discutiu os detalhes sobre o arsenal necessário para a operação. A troca de mensagens dos militares foi analisada e, a partir disso, foi possível rastrear o envolvimento deles em uma série de conversas, que indicavam a preparação para ações violentas, com a expectativa de uma "ruptura institucional", já prevista antes da posse de Lula. Em outro momento, surgiram menções explícitas a assassinatos, como quando um militar afirmou que "a ruptura institucional já ocorreu", e se questionou se haveria "carecas sendo arrastados por blindados em Brasília", em uma clara referência a ações contra autoridades.
Esse plano de golpe foi frustrado, em parte, pela falta de adesão das Forças Armadas, que não se alinharam com os objetivos do grupo. Mesmo assim, o projeto de golpe "Operação Punhal Verde e Amarelo" continuou a ser discutido por meio de celulares que estavam habilitados de forma anônima para dificultar a identificação dos envolvidos. O planejamento militar envolvia diversas armas pesadas, que foram detalhadamente descritas em documentos encontrados pela PF.
As prisões realizadas hoje, com base em mensagens obtidas de seis celulares, ajudam a compreender a dimensão da tentativa de golpe, que visava a um confronto armado com o novo governo. O documento com a lista de armamentos revela que o grupo estava se preparando para uma ação de grande escala, utilizando armamentos militares pesados, típicos de grupos de combate.
Os "Kids Pretos", como são conhecidos os integrantes da força especial de operações do Exército, têm treinamento intenso em técnicas de guerra irregular e operações especiais. Esse treinamento, de cerca de cinco meses, envolve táticas de combate avançadas, incluindo o uso de armamentos pesados e a realização de missões com objetivos políticos, econômicos ou militares. O treinamento ocorre em centros especializados como o Comando de Operações Especiais em Goiânia, no Centro de Instrução de Operações Especiais em Niterói (RJ) e em Manaus (AM).
Com informações: Jornalista Fernando Kopper
Fonte: GZH
Foto: Jair Bolsonaro (esquerda) e o general Mário Fernandes, quando esse ainda integrava as forças especiais do Exército.