O avanço da inteligência artificial (IA) tem impactado diretamente a carreira de ilustradores brasileiros, como a carioca Lúcia Lemos, de 30 anos, que viu sua renda despencar nos últimos anos. Lúcia lembra de uma conversa recente com um cliente, que a fez refletir sobre o futuro da profissão: "Ele me disse que, por melhor que eu fosse, não valia mais a pena contratar meu trabalho. Agora, com uma linha de código, ele consegue 20 desenhos na hora", conta.
Em 2021, no auge da sua carreira, Lúcia chegou a faturar R$ 7 mil em um único mês. Hoje, no entanto, sua expectativa de renda é de menos de R$ 300 por mês. A redução drástica de oportunidades, especialmente no mercado internacional, é atribuída ao uso crescente de ferramentas de IA generativa, que criam imagens e outros conteúdos em segundos.
A situação não é isolada. Wagner Loud, ilustrador e diretor criativo de São Paulo, relata que muitas empresas têm fechado ou reduzido drasticamente seus departamentos de ilustração, substituindo profissionais por sistemas automatizados. "Agora, o trabalho criativo é substituído por inserção de palavras-chave em softwares de IA. Isso é desolador", afirma.
A pressão dos profissionais da indústria criativa tem levado a mobilizações, com grupos de ilustradores e artistas digitais se unindo para discutir saídas. A cantora Marisa Monte, por exemplo, tem usado sua visibilidade para defender a causa dos artistas. Ela participou de uma sessão na comissão do Senado que discute o Projeto de Lei 2338, que visa regulamentar o uso da IA no Brasil, pedindo uma legislação que proteja os direitos autorais dos criadores.
Enquanto a regulamentação avança lentamente, os ilustradores buscam alternativas para manter suas carreiras, temendo que, sem proteções adequadas, o futuro da profissão esteja em risco.
Com informações: Jornalista Fernando Kopper
Fonte: BBC News Brasil