Um pastor evangélico da Assembleia de Deus Ministério Belém foi preso em flagrante nesta quarta-feira, 3 de julho, no Jardim Santo Antônio, em Valinhos, no interior de São Paulo, sob suspeita de compartilhar vídeos de pornografia infantil. A operação para cumprimento do mandado de prisão contou com a participação de policiais federais e militares.
Agnaldo Roberto Betti, que acumula 457 mil seguidores nas redes sociais, incluindo um canal no YouTube onde oferece lições bíblicas para jovens e adultos, foi surpreendido pelas equipes na própria casa, enquanto acessava os conteúdos ilícitos por meio de um aplicativo. O líder religioso, de 58 anos, tentou deletar os arquivos, mas não conseguiu.
De acordo com a Polícia Federal (PF), Betti já havia sido indiciado neste ano pelo mesmo delito, mas "continuou a adquirir e compartilhar diversos vídeos e imagens de conteúdo de violência sexual infantojuvenil". A investigação que levou à prisão do pastor faz parte da Operação Escudo da Inocência, com o objetivo de proteger crianças e adolescentes vítimas de abuso sexual.
O Brasil registrou 58,3 mil casos de estupro de crianças e adolescentes de até 14 anos entre 2020 e 2022. Segundo dados do Sistema de Informação de Agravos de Notificação (Sinan), 48% dessas vítimas sofreram a agressão mais de uma vez antes de serem atendidas no sistema de saúde. Os registros revelam um longo ciclo de violência que afeta principalmente meninas, com cerca de 24,9 mil casos de estupro repetido de crianças e adolescentes do sexo feminino, correspondendo a 88% de todas as agressões notificadas como recorrentes. Mais de 60% das vítimas eram negras.
No Sinan, essas informações são coletadas compulsoriamente no momento em que a criança é atendida numa unidade de saúde. Se considerados outros tipos de violência sexual preenchidos nas fichas de notificação, como assédio, exploração, atentado violento ao pudor e pornografia infantil, o número de meninas que foram mais de uma vez vítimas do mesmo crime sobe para 40,8 mil.
Desafios na Denúncia e Acesso à Justiça
Os dados do Disque 100, compilados pelo Centro Marista de Defesa da Infância, mostram que a agressão foi denunciada como repetida a cada 7 de 10 registros de violência sexual contra crianças e adolescentes no período de 2020 a 2023. O serviço coleta denúncias anônimas de violações de direitos humanos.
Além de serem as principais vítimas de estupro, meninas de até 14 anos também são as mais prejudicadas pelo projeto de lei discutido na Câmara dos Deputados que quer equiparar o aborto após 22 semanas ao crime de homicídio. O acesso precoce ao sistema de saúde em caso de gravidez, por exemplo, se torna uma saga principalmente quando a violência acontece dentro de casa. Segundo o Ministério das Mulheres, 68% dos estupros de crianças em 2022 ocorreram na residência da vítima, tornando a própria família um obstáculo para a interrupção do ciclo de violência.
Para a advogada do Instituto Alana, Mariana Zan, isso faz com que um grupo muito grande de meninas nem mesmo consiga acesso aos serviços de proteção, refletindo no prolongamento da violência. “O ambiente doméstico é violento, e é fácil manipular a vítima para dificultar o acesso aos meios de denúncia”, afirma. A relação da criança com o agressor, o sentimento de culpa e até a dificuldade de ser ouvida por outros adultos complicam ainda mais a questão, muitas vezes impedindo que a criança reconheça a agressão como violência.
Com informações: Jornalista Fernando Kopper