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Holandesa com depressão recebe direito de morrer após batalha de três anos
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Publicado em 20/05/2024

Nas fotos da capa e do perfil de sua rede social, Zoraya Ter Beek transparece desânimo. Seus olhos parecem distantes, seu semblante cansado. "Queridos seguidores, estou de volta aqui. Sem conselhos 'médicos' ou 'divinos'", escreveu a mulher de 29 anos, residente no vilarejo de Oldenzaal, no leste da Holanda. "Estarei aqui por alguns dias", acrescentou. Ao escrever isso, Zoraya provavelmente se referiu à própria vida. Ela acaba de receber a aprovação das autoridades do país para se submeter à eutanásia, mesmo sendo fisicamente saudável.

O veredito marca o fim de uma batalha legal de três anos e meio. Zoraya espera ter a companhia do namorado, de 40 anos, e dos dois gatos enquanto recebe um sedativo, seguido por um medicamento que cessará o funcionamento do coração. Diagnosticada com autismo, depressão crônica, ansiedade, trauma e transtorno de personalidade desde a infância, sua jornada tem sido marcada por desafios mentais e emocionais profundos.

"Sinto alívio. Tem sido uma luta muito longa", desabafou Zoraya ao site The Free Press. Ela já tem os planos para os minutos seguintes de sua morte: espera ser cremada. "Não quero sobrecarregar o meu parceiro com a tarefa de manter o túmulo arrumado. Ainda não escolhemos uma urna, mas ela será a minha nova casa", afirmou. O sonho de exercer a carreira de psiquiatra foi anulado pelas doenças, que a impediram de estudar. Foi justamente de uma psiquiatra que veio o choque de realidade. "Não há nada mais que possamos fazer por você. Você nunca vai ter nenhuma melhora", disse-lhe a profissional.

De acordo com o The Free Press, assim que o coração de Zoraya deixar de bater, um comitê de especialistas em eutanásia constatará a morte e avaliará se a jovem recebeu os cuidados adequados. Depois, o governo da Holanda emitirá uma declaração alegando que a vida da holandesa foi encerrada legalmente, um procedimento que busca proteger de responsabilidade penal os facilitadores da morte assistida. O Correio tentou entrar em contato com Zoraya, por meio do X, mas não teve resposta, até o fechamento desta edição.

Em entrevista ao tabloide The Guardian, ela reconheceu a polêmica provocada por sua batalha para morrer. "As pessoas pensam que, por ter uma doença mental, não consigo raciocinar, o que é um insulto. Eu entendo os medos que algumas pessoas com deficiência têm sobre a morte assistida e entendo as preocupações sobre pessoas serem pressionadas a morrer. Na Holanda, temos a Lei da Eutanásia há mais de 20 anos, existem regras rigorosas", comentou. O pedido de eutanásia foi feito em dezembro de 2020. "Tenho um pouco de medo de morrer, pois é o máximo do desconhecido", disse ao The Free Press.

Com informações: Jornalista Fernando Kopper

Fonte: The Guardian

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