A Datagro Grãos alerta para uma mudança drástica no panorama financeiro dos produtores de soja do Brasil, que, após desfrutarem de 17 anos consecutivos de lucros, agora enfrentam a perspectiva de prejuízo. Segundo a consultoria, a conjunção de diversos fatores, incluindo a queda nos preços e a redução da produtividade, coloca em xeque a rentabilidade do setor.

Flávio Roberto de França Júnior, economista e líder de conteúdo da Datagro, destaca que, apesar de uma diminuição nos custos de produção, os preços da soja sofreram uma queda significativa. A lucratividade está agora fortemente vinculada ao desempenho na produtividade, que, mesmo em casos positivos, tende a ser inferior aos últimos três anos.

O principal fator limitante é a redução na expectativa de produtividade média, influenciada pelo impacto de um fenômeno El Niño. A estimativa inicial de 3.592 kg/ha foi reduzida para os atuais 3.233 kg/ha, e há um viés de baixa no próximo levantamento. Esse desempenho representaria uma queda de 10% em relação ao recorde alcançado na safra anterior.
Embora tenha havido uma redução nos custos operacionais de produção em importantes estados produtores, como Mato Grosso, Paraná e Rio Grande do Sul, isso ocorreu após aumentos significativos nas safras anteriores. No entanto, a consultoria destaca que essa diminuição ocorreu sobre uma base elevada, e os custos fixos aumentaram consideravelmente.

Ao analisar os componentes da receita do produtor, a Datagro observa que os preços domésticos da soja estão abaixo dos excepcionais níveis observados nos últimos anos, retornando para patamares inferiores à média.
Diante desse cenário, França Júnior conclui que a safra 2023/24 corre o risco de registrar resultados negativos para a maioria dos produtores, representando uma mudança significativa após um longo período de lucratividade. A rentabilidade dependerá do sucesso na produtividade média.