Na tarde desta terça-feira, 05/03, um grupo diversificado de membros da comunidade do bairro Abegay localizado no interior de Cruz Alta, se reuniram em um grande protesto diante das deterioradas instalações da Escola Estadual de Ensino Fundamental Eliza Brum de Lima. Pais, mães, avôs, avós, alunos e ex-alunos ergueram suas vozes em uma manifestação pacífica que tinha como alvo a lentidão do poder público em iniciar as obras de reparo tão necessárias, decorrentes dos danos causados pelos violentos temporais que assolaram o município em novembro de 2023.

Na época, os implacáveis ventos castigaram o telhado da escola, forçando o cancelamento das aulas. Os estudantes, em uma tentativa de contornar a situação, foram transferidos temporariamente para instalações de uma igreja local, mas, passados vários meses, a instituição de ensino aguarda ansiosamente qualquer sinal de manutenção. O jornalista Fernando Kopper, que tem raízes na escola, expressou sua tristeza ao verificar a situação precária das instalações: "Eu estudei aqui até o ano de 1999, conheço bem a instituição que tanto deu orgulho ao longo dos anos, confundindo-se com a própria história do bairro Abegay. Me lembro que nos anos 90 a escola Eliza Brum de Lima foi uma das pioneiras na elaboração de hortas comunitárias, assim como projetos sociais. Agora, chegar ao ponto e ver com meus próprios olhos a situação que o local se encontra é uma tristeza imensurável."
As frequentes chuvas no bairro agravaram ainda mais os problemas, provocando infiltrações que danificaram severamente as salas de aula. Atos de vandalismo deixaram vidraças quebradas, transformando o local em um alvo fácil para furtos. A antiga casa de madeira, que serviu como a primeira sede da escola antes da construção em alvenaria, está agora irreconhecível, com portas quebradas e um interior vandalizado, tornando-se, segundo os moradores, um local frequentado por usuários de drogas.
Atualmente, cavalos pastam livremente onde antes ecoavam risos de alunos e professores. A sujeira acumulada ao longo de quatro meses toma conta das instalações, enquanto em algumas salas de aula, objetos e materiais didáticos não utilizados se deterioram devido às infiltrações. O problema se intensifica com a escola fechada desde novembro de 2023, forçando os alunos a frequentarem outras escolas estaduais sem um transporte público adequado.

Ana Paula, mãe de uma estudante da instituição, denunciou a ausência de transporte gratuito, prejudicando o acesso da filha à escola: "Minha filha está sem estudar até o momento, pois ela foi transferida para a escola Margarida Pardelhas, no centro da cidade. O problema é que não tenho como pagar o transporte, uma vez que o município não disponibilizou até agora. Ou seja, não temos transporte gratuito para mandar minha filha estudar no centro. O diretor da escola garantiu para nós que a instituição disponibilizaria um transporte público, o que não aconteceu até o momento. Alunos e alunas da Eliza Brum de Lima estão tendo que frequentar outras escolas custeando o próprio transporte, porém, infelizmente, assim como eu, vários pais não têm condições de pagar quase 400 reais por mês de transporte."
Os vereadores Adir Pretto e José Carlos Martins Taquara se solidarizaram com a comunidade durante o protesto, questionando a omissão das autoridades locais diante da situação crítica.
O vereador Adir Pretto expressou sua indignação: "É uma vergonha, um descaso o que estamos vendo aqui no bairro Abegay. Fim de semana, a prefeita de Cruz Alta esteve reunida com o vice-governador Gabriel Souza para inaugurar pavimentos e pista de aeroporto. Por que não trouxe essas autoridades para verificar essa situação lamentável que temos aqui? A prefeita é a autoridade número 1 do município, ela poderia sim ter intercedido por essa instituição."
José Carlos Martins Taquara também comentou: "Ficamos tristes, esse é um dia triste e vergonhoso para nossa comunidade. Chegar aqui e ver a situação em que essa querida instituição se encontra é lamentável. Iremos até a 9ª Coordenadoria da Educação e cobraremos uma explicação, além de não resolverem esse problema, não estão dando suporte ao transporte dos alunos que aqui estão."
Um pai, que preferiu não se identificar, desabafou: "Meu filho está em casa com os materiais comprados, com tudo pronto para estudar, mas não temos dinheiro para pagar um transporte público, uma vez que dependemos inclusive do Bolsa Família. Nosso medo agora é pelo fato de nossos filhos não estarem tendo frequência escolar e terem o benefício suspenso pela ausência na escola. Meu filho não está indo, pois realmente não temos como pagar o transporte. Nos prometeram que na segunda-feira, 04, o ônibus iria começar a buscar nossos alunos, mas hoje a direção da escola, através do nosso grupo do Whatsapp, informou que ainda não conseguiram o transporte. Não sabemos o que fazer, precisamos de uma solução para essa situação."
Ao final do protesto, foi realizado um abraço simbólico na instituição. A comunidade agora espera uma solução, ou ao menos uma manifestação efetiva por parte do poder público.
Fotos e reportagem: Fernando Kopper













