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Remição da pena pela leitura inclui mulheres não alfabetizadas na Penitenciária Feminina de Guaíba
SAÚDE
Publicado em 29/01/2024

Uma iniciativa da Polícia Penal fornece, por meio da leitura, uma oportunidade de remição de pena a mulheres não alfabetizadas. Chamado “Projeto Entrelinhas”, a proposta entrou em vigor na Penitenciária Estadual Feminina de Guaíba, na região Metropolitana. A ação foi idealizada em parceria com o Núcleo Estadual de Educação de Jovens e Adultos.

As aulas contam com a participação de uma equipe técnica, responsável por ler os textos. Após a leitura, as apenadas discutem os conteúdos e, a partir da interpretação própria, expressam o que foi aprendido na linguagem em que se sentem mais confortáveis, como o desenhos ou colagens de figuras e palavras.

O plano segue as diretrizes da instituição. Uma ordem de serviço da Polícia Penal, publicada em 2021, prevê o emprego de estratégias específicas no relatório de pessoas em fase de alfabetização, como a leitura entre pares e o uso de audiobooks, com registros do conteúdo lido por meio de outras formas de expressão.

Todo o material é disponibilizado pelo Banco de Livros da Fundação Gaúcha dos Bancos Sociais. A entidade, que realiza doações de obras para bibliotecas de casas prisionais, doou uma coleção de obras inclusivas, que também são adaptadas para pessoas com deficiência visual e baixa visão.

Os gêneros escolhidos se entrelaçam com as vivências das detentas. As leituras abrangem temas religiosos, romances e histórias escritas por egressos e apenados sobre o sistema penal, além de literatura infantil e infanto-juvenil.

É a segunda vez que a iniciativa é implementada na casa prisional. Em 2023, o projeto ocorreu de forma experimental. Graças ao bom resultado, os trabalhos foram retomados.

A diretora da unidade, Isadora Minozzo, estima que aproximadamente 57 apenadas devem participar do projeto ao longo do mês. “Antes, as resenhas eram feitas em horário de aula. Agora, as apenadas vão até a sala de estudos, em um horário que não é o de aula, e todas que leram seus livros fazem a uma resenha na frente das servidoras.”

Uma das responsáveis pelo Entrelinhas é a técnica superior penitenciária e psicóloga, Carla Castro. Ela conta que as equipes selecionam e identificam o perfis de apenadas que poderiam se adaptar bem ao projeto ou que começaram a fazer a alfabetização, mas desistiram e poderiam ter interesse em retomar as aulas.

“O momento da remição de pena é também o da socialização, quando as mulheres presas têm mais interação com a equipe técnica. Isso faz com que elas se sintam mais vistas, porque há contato direto com quem está do lado de fora. É uma forma de proporcionar que elas consigam sair daqueles quatro muros”, afirmou.

O espaço de leitura no estabelecimento é mantido por agentes penitenciárias. Os livros podem ser retirados por apenadas que ganharam status de ‘promotoras de educação’. Elas também são responsáveis por manter o espaço organizado e pelo controle da retirada e devolução dos livros. Essas apenadas ainda possuem uma lista do acervo da biblioteca, que pode ser repassada a outras detentas interessadas na remição de pena pela leitura.

Uma apenada da Penitenciária de Guaíba, de primeiro nome Ana, destacou que a retomada do Entrelinhas significa a chance de desenvolver não somente a prática da leitura, mas também o autoconhecimento, a partir do momento de socialização. “Quero sair daqui e arrumar um bom emprego. Para isso, tenho que aprender a pelo menos fazer minha assinatura”, disse.

Foto;Ilustrativa

Redação O Sul

Projeto prevê uso de estratégias específicas no relatório de pessoas em fase de alfabetização

Foto: Jürgen Mayrhofer/Ascom SSPS

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