Em alusão ao Dia Mundial de Luta Contra a Aids, celebrado em 1º de dezembro, foi lançado neste mês o Boletim Epidemiológico do HIV e da Aids. O documento é elaborado anualmente pelo Ministério da Saúde e contribui para se pensar na prevenção e no tratamento também a nível estadual e municipal.
Em sexto lugar nas taxas de novos casos e em primeiro no ranking de mortalidade, o Rio Grande do Sul é um dos Estados que chama a atenção pelos índices.
A infecção pelo HIV e a Aids ainda são problemas de saúde pública no país. Comparando os anos de 2020 e 2022, o número de casos de infecção pelo HIV aumentou 17,2% no Brasil. No Estado, o aumento no período foi de 3%, passando de 2.836 casos notificados para 2.920 no ano passado.
Em 2022, o ranking referente às taxas de detecção de Aids mostrou o Rio Grande do Sul como o sexto de maior índice no país: 23,9 casos por 100 mil habitantes. Os Estados líderes nesse índice são Roraima (34,5), Amazonas (32,3), Pará (26,3), Santa Catarina (25,3) e Amapá (25). A média nacional é de 17,1.
Já em relação ao coeficiente de mortalidade, o RS é o líder: 7,3 óbitos por 100 mil habitantes – a média nacional é de 4,1. Em 2022, no Estado, foram 1.130 mortes por causa básica notificada como Aids.
O boletim nacional trabalha com dados fechados até 30 de junho deste ano, ou seja, consta apenas o primeiro semestre do ano corrente. Por isso as informações a serem consideradas no documento são as de 2022.
Populações-chave e ações preventivas
A situação epidemiológica é sustentada por profundas desigualdades sociais e pela permanência de estigmas e preconceitos sobre o HIV/Aids. À medida que as pesquisas avançaram, olhares mais inclusivos foram ganhando espaço.
O Unaids (Programa Conjunto das Nações Unidas sobre HIV/AIDS) passou a falar em “populações-chave”, em substituição ao antigo termo “grupos de risco”, para tratar de pessoas que têm probabilidade maior de se expor a comportamentos de risco devido a diversas circunstâncias sociais e comportamentais.
Entre as ações mais importantes de combate ao problema estão a ampliação da testagem rápida; a disponibilização da profilaxia pré-exposição ao HIV (PrEP) e da profilaxia pós-exposição ao HIV (PEP); e os tratamentos altamente efetivos para controlar a carga viral e manter o HIV indetectável em pessoas que vivem com o vírus, fazendo com que elas não mais o transmitam.
No Rio Grande do Sul, a implementação dessas medidas vem acompanhada de outras estratégias. Dentre elas, a manutenção do Projeto Geração Consciente – iniciativa da Secretaria da Saúde em parceria com a Secretaria da Educação, a Organização das Nações Unidas para a Educação, a Ciência e a Cultura, o Unaids e o RS Seguro –, dirigido a jovens estudantes de escolas estaduais e municipais no qual um dos eixos trabalhados é a saúde sexual e reprodutiva.
“Considerando a prevalência de casos no Estado, não se pode focar as ações de enfrentamento somente em grupos específicos. É necessário alcançar a população como um todo”, ressalta Fernanda Carvalho, integrante da Coordenação Estadual de IST/Aids, da SES.
Nesse sentido, destaca-se a iniciativa estadual de adotar a testagem do HIV em caráter obrigatório em todas as gestantes e parturientes no momento do parto, independentemente do número de testagens anteriores. Isso resultou no aumento expressivo da cobertura de testagem nas maternidades.
Além disso, a partir de 2018, a SES instituiu a recomendação em Nota Técnica Estadual de testagem para HIV em pais ou parceiros nas maternidades e a testagem tanto no puerpério quanto durante o aleitamento materno.
Dezembro Vermelho
O Dia Mundial de Luta Contra a Aids, 1º de dezembro, foi instituído pela OMS (Organização Mundial de Saúde) como uma data simbólica de conscientização sobre a epidemia de Aids.
Segundo a Opas (Organização Pan-Americana da Saúde), o dia é uma oportunidade para apoiar as pessoas envolvidas no enfrentamento à doença e melhorar a compreensão do impacto causado pelo vírus HIV como um problema de saúde pública global e ainda em andamento. Nesse sentido, o Dezembro Vermelho marca uma mobilização nacional na luta contra o vírus HIV, a Aids e outras IST (infecções sexualmente transmissíveis).
Neste ano, a SES lançou uma campanha para redes sociais e rádios com foco na prevenção e no diagnóstico. O material faz um chamado à população para a testagem regular e o uso de preservativos e de gel lubrificante. As peças também buscam encorajar as pessoas a não ficarem na dúvida e a acessarem as profilaxias disponíveis.
Com a chamada “Cuide da sua vida”, a campanha também faz alusão à alta mortalidade por Aids no Estado – fato que pode estar relacionado a uma maior proporção de diagnósticos tardios da infecção pelo HIV, já em fase mais avançada.
A campanha defende que cuidar-se é – para além do uso de preservativos – testar-se regularmente e fazer uso de outras estratégias da prevenção – e, no caso de exame positivo, iniciar o tratamento o quanto antes. Assim, é possível preservar a vida da pessoa e tornar a carga viral indetectável, ou seja, sem possibilidade de transmissão do vírus.
Municípios
Entre as capitais do país, Porto Alegre é a que apresentou maior índice em um levantamento dos últimos cinco anos (de 2018 a 2022) que leva em consideração as taxas de detecção na população geral, mortalidade e registros em menores de cinco anos de idade.
No ranking dos 100 municípios com mais de 100.000 habitantes para esse mesmo período (segundo índice composto), o Rio Grande do Sul conta com seis cidades na lista: Canoas (2ª), Gravataí (7ª), Novo Hamburgo (33ª), Bagé (44ª), Pelotas (64ª) e Passo Fundo (81ª).
Em sexto lugar nas taxas de novos casos e em primeiro no ranking de mortalidade, o Rio Grande do Sul é um dos Estados que chama a atenção pelos índices
Foto:Rodrigo Nunes/MS