O Censo 2022, que será lançado na próxima quarta-feira (28) pelo Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE), enfrentou diversos desafios para garantir a inclusão de quase 16 milhões de brasileiros na contagem populacional. A falta de acesso dos recenseadores a áreas remotas e carentes, juntamente com a resistência de alguns cidadãos influenciados por notícias falsas, quase comprometeu a realização do censo, o que poderia ter deixado de contabilizar uma população equivalente a quase um estado do Rio de Janeiro.
Nos últimos três meses, o IBGE e o Ministério do Planejamento realizaram uma série de mutirões que conseguiram reverter a situação. Foram realizadas três operações especiais para incluir 15,9 milhões de brasileiros no censo. A primeira operação teve como objetivo alcançar os brasileiros na Terra Indígena Yanomami, que nunca haviam sido recenseados. As outras operações buscaram reduzir a taxa de não resposta em dois ambientes distintos, mas com resistência a recenseadores: favelas e condomínios de luxo.
No recenseamento da Terra Indígena Yanomami, realizado em março, foram incluídos 26.854 indígenas no censo, sendo 16.560 em Roraima e 10.294 no Amazonas. Essa operação foi essencial para atualizar a população indígena no Brasil, estimada em 1,65 milhão de pessoas de acordo com um balanço parcial apresentado em abril. O número completo será divulgado em julho, quando o IBGE apresentará um balanço específico do Censo 2022 para a população indígena.
A operação na Terra Yanomami foi complexa, pois envolveu dificuldades de acesso a aldeias que só podem ser alcançadas de helicóptero. O mutirão foi coordenado por cinco ministérios e contou com a participação de 110 servidores federais de órgãos como a Polícia Rodoviária Federal, que forneceu os helicópteros, e o Ministério da Defesa, responsável pelo fornecimento de combustível. Guias do Ministério dos Povos Indígenas, servidores da Secretaria de Saúde Indígena da Fundação Nacional dos Povos Indígenas (Funai) e recenseadores do IBGE também estiveram envolvidos na operação.
Nas favelas, o censo encontrou outras dificuldades. Além da falta de segurança em alguns locais, muitos moradores se recusavam a abrir a porta para os recenseadores devido a notícias falsas que circulavam, alegando que teriam benefícios sociais cancelados. Outro problema era a falta de endereços nas comunidades mais densas, com novas moradias surgindo sem registro oficial.
O IBGE contou com a ajuda da Central Única das Favelas (Cufa) para conscientizar os moradores da importância de responder ao censo. A Cufa realizou campanhas de conscientização, recrutou moradores de favelas e lideranças locais como recenseadores e organizou mutirões de respostas em eventos comunitários. O resultado será conhecido em agosto, quando o IBGE divulgará um recorte do Censo 2022 para as favelas.
Já nos condomínios de luxo, especialmente em São Paulo, Rio de Janeiro e Cuiabá, a resistência aos recenseadores era mais alta, chegando a uma taxa de não resposta de 20%. O Ministério do Planejamento e o IBGE realizaram uma campanha nas redes sociais para sensibilizar porteiros e esclarecer que os síndicos não tinham o poder de proibir a entrada dos recenseadores. Também foram veiculadas reportagens em televisões locais sobre o tema. Essa mobilização obteve sucesso, reduzindo a taxa de não resposta para menos de 5% em condomínios de alta renda em uma das três capitais mencionadas.
A realização do Censo 2022 enfrentou diversos entraves, sendo adiado devido à pandemia de COVID-19 e enfrentando dificuldades de contratação e pagamento de recenseadores. Com a suplementação orçamentária de R$ 259 milhões ao IBGE e a extensão da coleta de dados até o fim de maio, o recenseamento obteve resultados satisfatórios. Agora, com as operações especiais e o tempo extra de coleta, o IBGE garante que o Censo 2022 está robusto e em conformidade com os padrões internacionais de qualidade.
A realização do Censo 2022 enfrentou diversos entraves, sendo adiado devido à pandemia de COVID-19 e enfrentando dificuldades de contratação e pagamento de recenseadores
Com informações: Fernando Kopper
Fonte: Agência Brasil