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Defesas de policiais envolvidos em abordagem a jovem morto em São Gabriel falam em ‘inocência’ e ‘fatalidade’
POLÍCIA
Publicado em 23/08/2022

As defesas dos três policiais presos por suspeita de envolvimento no desaparecimento de Gabriel Marques Cavalheiro, encontrado morto em São Gabriel, na Fronteira Oeste do Rio Grande do Sul, se manifestaram sobre o caso nesta segunda-feira (22). O jovem ficou uma semana desaparecido, após ter sido alvo de uma ação policial no município.

A advogada Vania Barreto, que representa os soldados Cleber Renato Ramos de Lima e Raul Veras Pedroso, fala que o ocorrido foi uma “fatalidade”. Segundo a representante, os policiais não relataram agressão contra Gabriel e teriam ficado surpresos com a notícia do desaparecimento.

“São excelentes profissionais, não há nada na vida pregressa deles, nos antecedentes, que desabone a conduta deles. Isso é um caso totalmente isolado e foi uma fatalidade o que aconteceu”, afirma.
Já a defesa do sargento Arleu Junior Cardoso Jacobsen alega que o policial é inocente. Os advogados Ivandro Bitencourt Feijó e Mauricio Adami Custódio ainda manifestam “total indignação de sua família por ocorrer, antes de tudo e de forma sumária o julgamento de antecipação de culpa em detrimento da cautela que deve existir nos procedimentos penais desta natureza”.

Os advogados ainda questionam a linha de investigação da Polícia Civil, que trabalha com a hipótese de homicídio contra Gabriel.
Os três estão presos preventivamente desde sexta-feira (19) após decisão da Justiça Militar. Os policiais foram transferidos para Porto Alegre, onde aguardam as investigações.

Nesta segunda-feira (22), o Tribunal de Justiça Militar do Rio Grande do Sul (TJM-RS), por decisão do desembargador militar Fernando Lemos, manteve a prisão dos brigadianos envolvidos no caso. Um pedido de soltura havia sido feito pelas defesas dos policiais.

No inquérito civil, um novo pedido de prisão preventiva foi feito contra os militares. Segundo a polícia, há indícios de um potencial homicídio duplamente qualificado.

Relembre o caso
Na noite de 12 de agosto, uma sexta-feira, Gabriel estava na casa do tio, Antônio. Segundo a advogada da família, Rejane Igisk Lopes, o tio foi dormir e só foi perceber a ausência do sobrinho no dia seguinte.

“Foi chamar umas 10h, 11h. Achou que ele poderia ter ido pra casa de um parente próximo. A família começou a procurar e não o achou. Na metade da tarde de sábado, ligaram para os pais dele, em Guaíba, e eles se deslocaram. Foram até a Polícia Civil fazer o registro e, desde então, começou-se a busca incessante”, diz Rejane.

A principal testemunha e autora do vídeo que mostra Gabriel pela última vez é a vizinha Paula Beatriz Lima da Silva. Ela depôs à polícia e disse que estava em casa com a filha e uma afilhada quando, na noite de sexta, Gabriel parou junto ao portão da casa onde ela vive e começou a gritar pelo nome “Paula”. Como não conhecia ele e já estava tarde, decidiu ligar para a BM.

“Vi um movimento muito grande dos cachorros. Ele tava forçando o portão, tentando entrar. Me assustei, não reconheci o rapaz. Vi que não era da vila, não era da cidade, acionei a Brigada”, contou à RBS TV.

Imagens de câmeras de segurança mostram a viatura da BM chegando ao local. Paula Beatriz conta que Gabriel foi abordado por três policiais, imobilizado e algemado. Por ser contra a forma como o jovem foi tratado, ela passou a registrar vídeos e fotos com o celular. As imagens gravadas mostram Gabriel sendo conduzido em direção à viatura.

“Acionei a brigada na intenção de retirar ele, mas não para fazerem nada contra”, afirmou Paula.

Depois, conforme a vizinha, o carro partiu em direção à localidade de Lava Pés, no interior de São Gabriel. De acordo com a mãe de Gabriel, Rosane Machado Marques, os policiais disseram que o jovem estava tranquilo, teve as algemas retiradas na viatura e teria pedido para ser deixado lá, onde pediria carona até um chalé que fica em uma estrada próxima.

“Ele foi abordado, com ele nada de irregular foi encontrado, e ele foi liberado”, diz Aníbal Silveira, major da BM.

Em depoimento, os policiais envolvidos na ação confirmaram que levaram o jovem até a localidade de Lava Pés, distante 6 km de onde Gabriel foi abordado. Mas a família rejeita a versão, pois o jovem não morava no município e desconhecia a região.

Além disso, segundo a advogada da família, a câmera de segurança de uma escola e o trajeto apontado pelo GPS da viatura policial mostram que o veículo ingressou na estrada de chão às 0h05, retornando em torno de 0h12. No entanto, pela baixa qualidade da imagem e pelo fato de as janelas estarem fechadas, não é possível identificar quem está na parte interna do automóvel.

“Vai para o Lava Pés quem realmente precisar ir. Tem umas casas de moradia, uma madeireira, um engenho de arroz. Termina o asfalto e começa uma estrada de chão. A passagem de pessoas e de carros é mínima, ainda mais no horário noturno”, descreve Rejane, sugerindo que não havia motivo para Gabriel ser levado para o local.

 

 

Fonte: GZH

Jornal Tribuna/Rádio Cidade 98.3 FM Cruz Alta/RS

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