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Colecionador descobre edição especial de Del Rey enquanto restaurava carro: “Só fizeram mais cem”
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Publicado em 26/05/2022

Quando o antigomobilista e mecânico José Ben-Hur Teponti, 49 anos, comprou um Del Rey Ghia 1987, esperava encontrar nele o requinte do sedan de luxo da Ford e lembranças confortáveis do passado. As idas da família dele para o litoral gaúcho remontam a uma época em que os carros e as viagens duravam mais. Além disso, durante os quatro anos em que se dedicou ao restauro da relíquia com peças originais, descobriu que se tratava de uma das 1,1 mil unidades fabricadas em edição especial comemorativa aos 250 mil carros Del Rey nos anos 1980, uma raridade, que guarda em Porto Alegre.

— Igual ao meu, duas portas e completaço, só fizeram mais cem. Conheço um outro aqui no Rio Grande do Sul e nunca vi registro de mais nenhum desta edição limitada. É mais do que um Del Rey, virou meu carro preferido — declara o colecionador.

Com poucos registros sobre essa série especial na internet, Ben-Hur percebeu que o carro tinha algo diferente quando encontrou o conjunto elétrico original de antena, vidros, travas, alarme e relógio digital — atrações inéditas em um veículo nacional nos anos 1980. Desde a compra, em outubro de 2013, até o fim da reforma, em 2017, ele foi atrás dos registros de cada um dos três donos que desfrutaram do carro antes dele. Quando encontrou com um deles o estojo do manual do veículo em couro vermelho e “250 mil” escrito em dourado na capa, não teve mais dúvidas.

— Conheço a história de todos os meus 10 carros. O Del Rey saiu da fábrica no dia 8 e foi emplacado no dia 14 de dezembro de 1987, uma encomenda super-rápida, entregue em Maravilha, Santa Catarina. O primeiro dono teve o carro por só seis meses. Conversei com ele em 2014, para certificar a procedência. Em 1993, tiraram o emblema dos 250 mil da lateral depois de uma batida. Foi para um terceiro dono em 1994, quando chegou a Guaporé, onde eu comprei em 2013 com 90 mil quilômetros — explica Ben-Hur.

A busca de informações teve a ajuda de amigos colecionadores e comerciantes de carros clássicos, além de ex-vendedores da própria Ford. A ampla rede de contatos faz parte da vida de Ben-Hur desde a infância, quando ele auxiliava a família a tocar os negócios de uma concessionária, uma mecânica e uma frota de táxis em Porto Alegre.

— Desde pequeno, já estava dentro da loja e da oficina. Este segue sendo o negócio dos primos até hoje. O meu primeiro carro foi um DKV, comprei com 14 anos. Trabalhei por 25 anos fabricando, importando e distribuindo peças para o continente. Hoje, faço só serviços de clientes selecionados, pois cada restauro leva pelo menos um ano e meio — comenta.

Por que o Del Rey?

Teponti, cuja história de colecionador reúne Kombi, DKV, Ford Falcon, Mercedes, Chevette, Megane, entre outros, destaca que a ideia de comprar um Del Rey veio das memórias afetivas. O pai, Itacir Teponti, era fã do trabalho iniciado por Henry Ford, tendo sido feliz proprietário de todas as edições de Corcel, Del Rey e Escort, de acordo com Ben-Hur, enquanto o tio dele, Antônio Brandão, preferia a Chevrolet, com seus Chevettes, Caravans e Opalas. Assim, quando teve problema com um Marea enquanto voltava de São Paulo pela BR-101, em viagem que, segundo ele, precisou ser feita a 80 quilômetros por hora por conta da avaria no carro de ano 1999, lembrou da confiança dos parentes nos modelos norte-americanos.

— Lembrei da época dos carros do pai, que rodavam a vida toda ida e volta de São Paulo e nunca davam nenhum problema. Aí deu vontade de ter um. Quando entro nele hoje, me vêm as lembranças das nossas viagens com o Del Rey do avô José, quando a família toda ia para Pinhal e Cidreira. O banco traseiro era o melhor lugar do carro, muito espaçoso, macio e confortável — ressalta, pontuando que ele e o primo Glécio Brandão são os únicos familiares que seguem vivos.

Apesar da nostalgia, o conhecimento técnico o faz admitir que o Del Rey Ghia não tinha o melhor desempenho do mundo. Ainda que o conforto da suspensão siga notável até hoje, o luxo do câmbio automático era limitado a três marchas. A bateria era rapidamente consumida pelo ar-condicionado e por itens como relógio digital e regulador elétrico dos espelhos retrovisores. O que nos anos 1980 era anunciado como “o requinte do requinte” é uma relíquia real, com limitações que também contam a história da época.

— Ter câmbio automático não era confortável como é hoje. A única diferença é que não precisava de embreagem, mas o motor não tinha força para passar de cem por hora na estrada ou encarar uma subida. Alguns defeitos são próprios do Del Rey, marcaram a época e morreram com ele quando parou de ser feito em 1991. Poderiam até ser resolvidos com peças modernas atualmente, mas eu prefiro manter original, pois sou purista — destaca, orgulhoso de conseguir fazer seu colecionável rodar nas estradas a caminho de encontros e premiações.

Fonte: GZH

Rádio Cidade Cruz Alta e Jornal Tribuna das Cidades

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