Offline
Aposentado aguarda há duas semanas por leito no RS: 'dói muito', diz filha; estado tem 63 pessoas na fila de espera de leitos clínicos
SAÚDE
Publicado em 05/03/2022

Há duas semanas, o aposentado Flávio Jorge Anflor Paiva, de 69 anos, enfrenta uma batalha pela vida que, assim como outras dezenas de pacientes, vai além do hospital. Conforme o Departamento de Regulação Estadual da Secretaria da Saúde, 63 pessoas aguardam na fila de espera por vagas em leitos clínicos no RS. Em outubro de 2021, eram 110 pacientes na mesma situação.

Morador de Tavares, no Litoral Norte do Rio Grande do Sul, o idoso tem um tumor cerebral e aguarda, em um leito do Hospital São Luiz, na cidade vizinha de Mostardas, a transferência para um local que atenda alta complexidade.A família obteve na Justiça o direito de "transferência hospitalar, avaliação e posterior tratamento e cirurgia neurológica". A decisão é de 17 de fevereiro e deveria ser cumprida em 24 horas.

Porém, somente na tarde desta sexta-feira (4) a família recebeu a informação de que foi obtida uma vaga no Hospital Cristo Redentor, em Porto Alegre. Desta forma, Flávio deve ser transferido neste sábado (4).

De acordo com a filha, a auxiliar administrativa Leandra dos Santos Paiva, de 22 anos, os médicos reforçam a necessidade de transferência urgente para que Flávio possa sobreviver.

 

 

"Ver ele hoje do jeito que ele está, sem a gente poder ajudar, é muito triste. Ele era uma pessoa muito ativa, que sempre ajudou muito. A gente não poder ajudar ele dói muito", diz emocionada.

 

 

Sentimento de impotênciaLeandra reclama da falta de resposta das autoridades e diz que o sentimento da família é de "impotência" diante da falta de resolução do problema. Ela teme que a transferência do pai chegue tarde demais.

Flávio é músico desde os 17 anos e se apresentava em eventos na região. No início da pandemia, a família desconfiou de que o idoso estivesse com depressão, em razão da falta de trabalho. Contudo, a situação foi piorando com o passar do tempo.

Com problemas de mobilidade, o homem foi diagnosticado com uma pneumonia no início deste ano. Uma tomografia realizada em fevereiro para monitorar o quadro apontou para a existência de um tumor no cérebro.

"Faz 21 dias, mais ou menos, que a gente está nessa função toda. Ele fez essa tomografia, e a gente descobriu que seria um tumor cerebral. O que o médico nos passou é que teria um coágulo nesse tumor que poderia romper a qualquer momento, e ele vir a óbito. A gente começou a se desesperar, porque a gente queria tirar ele dali", relata.

 

Fila de espera

 

 

De acordo com o diretor do Departamento de Regulação Estadual da Secretaria da Saúde, Eduardo Elsade, dos 63 pacientes de todo o RS que aguardam transferência para leitos clínicos, 34 esperam vaga para hospitais de Porto Alegre e sete aguardam atendimento oncológico na Capital e no interior.

Todos eles são pacientes que já estão internados em algum hospital e esperam transferência pra outro, com mais recursos. As especialidades mais demandadas são oncologia, cirurgia vascular e cardiologia.

"A gente tinha uma programação para zerar a fila no final de março, mas esses dois meses da [variante] ômicron [do coronavírus] atrapalharam bastante. A gente espera que, no final de abril, até talvez metade de maio, consiga gerar essa demanda dos atendimentos oncológicos", diz Elsade.

Enquanto isso, Flávio alterna períodos de lucidez com momentos de piora no estado de saúde. A ex-esposa de Flávio, mãe de Leandra, acompanha o aposentado no hospital. Outra preocupação da família, segundo Leandra, é com o filho menor, um menino de nove anos.

 

 

"Ele [o filho] diz que está sentindo muita falta dele [o pai], que sente muita saudade. Eles são bem apegados, isso é o que mais me dói", lamenta a filha.
Foto: Arquivo pessoal
Por Gustavo Chagas e Jeferson Ageitos, g1 RS e RBS TV
Comentários
Comentário enviado com sucesso!