"Os indivíduos mais vulneráveis, esses idosos com múltiplas comorbidades, são os que têm tido desfechos piores. E muitas vezes eles não morrem na fase aguda da doença, em que o pulmão está comprometido, precisando de suporte, mas durante a recuperação, por complicações de uma internação prolongada, que a grande maioria precisa por ter muitas doenças crônicas", avalia Juliana Cardozo Fernandes, pneumologista do Hospital Ernesto Dornelles.
Óbitos por Covid-19 em janeiro e fevereiro de 2022
Além das doenças pré-existentes, que sempre foram fatores de risco, a vacinação incompleta é apontada como agravante. Boa parte dos idosos que morreram com Covid nos dois primeiros meses do ano não tinham o esquema vacinal primário completo ou não tinham a dose de reforço.
"Quando nós olhamos a questão vacinal, não nos surpreendeu, porque a gente percebe realmente que é justamente o que aconteceu com as outras variantes. Quem é grupo de risco são as pessoas mais idosas e as pessoas com comorbidades, e se a gente for olhar a questão da vacinação, a grande maioria não tinha a terceira dose", alerta a infectologista Andreia Dal Bó.
Um estudo do Centro de Vigilância em Saúde do estado (CEVS-RS), que considerou as taxas de mortalidade por Covid entre agosto de 2021 e janeiro de 2022, aponta que o risco de morte entre pessoas com mais de 60 anos sem nenhuma dose da vacina foi 21 vezes maior em relação às que completaram o esquema e tomaram a dose de reforço."A ômicron se comporta da mesma forma que as outras variantes com relação a idade e a presença de comorbidades. Então, torna-se mais grave nesse perfil também. É importante a vacinação estar atualizada, principalmente nessa faixa etária e nas pessoas com comorbidades", observa Andréia.Além das doenças crônicas, outro fator que pode contribuir para o aumento das mortes por Covid entre os idosos é a chamada imunossenescência, o enfraquecimento do sistema imunológico, um processo natural que ocorre por causa do envelhecimento. Isso ajudaria a explicar por que mesmo pessoas vacinadas nessa faixa etária também aparecem nas estatísticas de janeiro e fevereiro.No Hospital Conceição, em Porto Alegre, cerca de 40% das pessoas com mais de 60 anos que morreram pela Covid estavam com apenas duas doses da vacina.
"Em um primeiro momento, a gente achava que ia encontrar a maior parte não imunizada, e aí nos surpreendeu alguns estarem já imunizados, inclusive com a dose de reforço", observa Carina Guedes Ramos, infectologista do HNSC.
Para aumentar a proteção dessa faixa etária, o estado do Mato Grosso começou a aplicar uma quarta dose da vacina contra o coronavírus. São Paulo prevê começar em abril. O alvo são pessoas com mais de 60 anos que tomaram a terceira dose em novembro.
No Rio Grande do Sul, a SES diz que a quarta dose para os idosos ainda depende da definição do Ministério da Saúde. Para os especialistas, é preciso, primeiro, incentivar esse público a concluir o esquema vacinal primário.
"A vacina é extremamente importante. Sem ela, a gente estaria com um cenário muito pior. É importante que as pessoas tenham isso em mente, que é muito importante completarem seus esquemas, não atrasarem, porque isso é fundamental para a gente controlar essam pandemia", completa Carina.
Vacinação no RS
Percentual da população coberta pela vacina
% doses aplicadas82,782,774,974,932,732,71ª dose2ª doseReforço020406080100
Fonte: SES-RS e g1 RS
Por Cristine Gallisa, RBS TV
Foto: Reprodução/RBS