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Servidor da Secretaria de Justiça do RS denuncia homofobia de colegas: 'não me atinge, mas não aceito'
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Publicado em 14/02/2022

Um agente penitenciário que trabalha na Secretaria de Justiça e Sistemas Penal e Socioeducativo do Rio Grande do Sul (SJSPS) registrou boletim de ocorrência no dia 4 deste mês denunciando o que chama de campanha de difamação com raiz homofóbica vinda dos próprios colegas.

 

A pasta se manifestou em nota, em que afirma que se opõe a qualquer tipo de preconceito e destaca ações como inclusão de cotas de diversidade nos concursos da pasta. Ainda informa que funcionários que eventualmente sofram atos de preconceito serão apoiados pela secretaria. Leia na íntegra abaixo.

Desde o início do ano, fotos publicadas por Mateus Schwartz dos Anjos em suas redes sociais particulares ao lado do noivo vêm circulando em grupos de mensagens de servidores com textos considerados difamatórios e ofensas preconceituosas, segundo ele.

 

Schwartz, que atualmente trabalha como assessor de relações institucionais , diz que as ofensas homofóbicas já circulam desde 2019 nos grupos de WhatsApp de colegas de outras cidades, mas foi em janeiro deste ano que ele conseguiu obter capturas de tela com as ofensas, o que pode servir de prova.

"Se eu não estivesse muito bem resolvido com essa questão, não teria postado no meu Instagram. É algo que não me atinge, mas que eu não aceito. Minha sexualidade não é tabu para mim ou para minha família, mas para muitas outras famílias ainda é. Então, resolvi denunciar, para que sirva de exemplo e para que os meus colegas repensem a conduta deles como servidores públicos", diz Schwartz.As imagens — em sua maioria do servidor na praia ou ao lado do noivo — normalmente aparecem nas capturas de tela com o destaque "encaminhada com frequência". Como o número de telefone de quem compartilhou também é visível, os registros podem servir para descobrir os responsáveis pelos ataques.Ele garante que recebeu apoio do secretário Mauro Hauschild, titular da SJSPS, que o incentivou a levar as denúncias adiante. Em nota, a Secretaria diz que "qualquer servidor que denunciar algum tipo de preconceito sofrido receberá todo o apoio" e caracteriza as ações denunciadas como atos que ferem "a paz social e a dignidade das pessoas". A delegada Cris Ramos, titular da Delegacia de Proteção ao Idoso e responsável pela Delegacia de Combate à Intolerância durante as férias da titular Andrea Mattos, informa que a investigação foi instaurada na última quarta-feira (9), e que o servidor será chamado para detalhar a denúncia e apresentar capturas de tela com as mensagens. A Corregedoria Geral do Sistema Penitenciário também será intimida a investigar o caso."Agora, vamos partir para a identificação dessas pessoas", garante a delegada.
 
 

Carreira itinerante

 

 

Com uma carreira no serviço público que remonta a 2014, quando tinha apenas 23 anos, Schwartz já cumpriu diversas funções na Susepe e trabalhou em muitas cidades do Rio Grande do Sul.

Ele começou como estagiário na Penitenciária Modulada Estadual de Osório, no Litoral Norte, mas logo passou a trabalhar com monitoramento eletrônico em Canoas, na Região Metropolitana da Capital.

 

No ano seguinte, conseguiu vaga como agente penitenciário no Presídio Regional de Pelotas, sua cidade natal, no Sul do estado, onde ficou até 2017. Lá, chegou ao cargo de supervisor da penitenciária.

Foi a partir do trabalho realizado em Pelotas que Schwartz assumiu o cargo de diretor do Presídio Estadual de Santa Vitória Palmar, na mesma região, no qual ficou por um ano, antes de assumir como delegado regional em 2019, mesmo ano em que noivou com o atual companheiro.

Nos anos seguintes, o servidor foi convidado para ser diretor adjunto do Departamento de Segurança e Execução Penal (Dsep), em Porto Alegre, passou alguns meses novamente como agente penitenciário em Pelotas e voltou à capital gaúcha, agora como o responsável pela Assessoria de Relações Institucionais da SJSPS, cargo que exerce até hoje."O que fez eu tomar a atitude de denunciar é que não vi nenhum comentário a respeito do meu trabalho. Ninguém fala que eu não chego no horário ou que não trabalho direito. São comentários ofensivos e homofóbicos com fotos minhas e do meu noivo", diz.

Inclusão

 

 

Em seu novo cargo, Schwartz tem trabalhado pela inclusão no sistema penitenciário do estado. Recentemente, um concurso para agente penitenciário da Susepe incluiu cotas para pessoas trans — um movimento acompanhado de perto e estimulado por ele.Schwartz foi responsável também por uma cartilha de bom comportamento para agentes penitenciários lidarem com detentos da comunidade LGBTQIA+."É um ambiente machista. Minha turma de agentes penitenciários é a primeira com nível superior, então isso vem mudando, mas ainda temos pessoas intolerantes e com pensamento retrógrado. Temos presos homossexuais, e os agentes não têm direito de dizer quem vai entrar ou não no sistema prisional. São todos iguais, e são pessoas que já receberam sua pena, não temos que julgar", avalia. Por meio de sua denúncia, Schwartz pretende transformar o ambiente mais seguro para membros da comunidade LGBTQIA+ que queiram adentrar no mundo do serviço público no sistema prisional."Recebo muitas mensagens de homens gays que querem saber se é tranquilo ou não. E eu sempre falo que é, que eles devem seguir. O pensamento já mudou bastante. Isso me motiva", garante.

Nota da Secretaria de Justiça e Sistemas Penal e Socioeducativo

 

 

A Secretaria de Justiça e Sistemas Penal e Socioeducativo se opõe a qualquer tipo de preconceito e desenvolve diversas ações de enfrentamento à discriminação, seja de orientação sexual ou de gênero, raça, sexo, classe e idade. Os valores dos direitos humanos são aplicados nos sistemas penal, socioeducativo, de justiça e nas políticas de consumidor.Destacamos a importância e o fortalecimento das cotas para as minorias sociais em concursos realizados para instituições ligadas à Secretaria.

Qualquer servidor que denunciar algum tipo de preconceito sofrido receberá todo o apoio da Secretaria e do Secretário Mauro Hauschild, e contará com medidas que busquem responsabilizar quem tem esse tipo de conduta, que fere a paz social e a dignidade das pessoas.

 

Por Gustavo Foster, g1 RS

 
 
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