Daniela Arbex vai estar em Porto Alegre nos dias de julgamento dos réus pelo incêndio, por considerar "um compromisso" que tem como alguém que contou a história.
"Vingança não é justiça. Longe de qualquer um de nós desejar vingança. Agora, que a gente precisa colocar fim a uma cultura de impunidade no Brasil, isso é altamente necessário. Já passou da hora de a gente dar uma resposta", avalia.
O livro de Daniela Arbex traz mais de 100 entrevistas com pais, sobreviventes e envolvidos no incêndio. A repórter mineira, vencedora do prêmio literário Jabuti, é autora dos livros-reportagem "Holocausto Brasileiro" e "Cova 312".
"Comecei pelos familiares, daí quis ouvir os profissionais de saúde. Descobri que eles nunca tinham falado sobre isso, nem entre eles. E isso me impressionou", contou ao g1 em 2018.
Um dos depoimentos do livro é de Lívia Oliveira, mãe de Heitor, uma das vítimas do incêndio. O jovem não estava na festa e entrou na boate para ajudar no resgate dos frequentadores do evento. Ao g1, ela contou que a Daniela ficou surpresa ao entrar na casa da família e não encontrar muitas fotos do rapaz. Lívia disse que não precisa muito, pois sente que ele está guiando ela.
"Não me importaria de perder tudo na vida e recomeçar, menos perder o Heitor fisicamente, porque sei que espiritualmente ele continua vivo", recorda a mãe do jovem.
A autora fez cinco viagens a Santa Maria para escrever a obra. Em uma delas, ingressou no prédio da Boate Kiss.
"Foi difícil entrar e ver o lugar, a presença lá é muito forte. Ainda tem os nomes das pessoas que tinham feito reserva nas mesas", recordou.
Pais, amigos, sobreviventes, bombeiros, médicos e até o ex-prefeito da cidade Cezar Schirmer falaram com Daniela para o livro. Porém, os quatro réus do processo se recusaram.
Livro foi lançado pela Editora Instrínseca em 2018 — Foto: Divulgação/Editora Instrínseca