Segurança alimentar é garantir que todos tenham condições de obter o alimento básico para suprir suas necessidades nutricionais (FAO - Organização das Nações Unidas para a Alimentação, 1983). “Segurança Alimentar” foi menciado na 1º Guerra Mundial, quando percebido que um país poderia dominar outro através do fornecimento ou não de alimentos. Esse tema volta a ser pauta importante devido à crise sanitária, social e econômica que o mundo está passando.
O Brasil e a insegurança alimentar
O Brasil é o segundo maior exportador de alimento do mundo, capaz de alimentar toda a sua população, exportar e ainda gerar sobra de alimentos. Porém, nos últimos três anos, o país regrediu 17 vezes em segurança alimentar e nutricional, retrocedendo ao patamar de 2004. Em 2021, 59,3% dos brasileiros sofrem com a falta de alimentos. O custo da alimentação subiu 0,59% em julho, 3,23% no ano e 10,81% em 12 meses, segundo o Índice Geral de Preços – Mercado (IGP-M), da Fundação Getulio Vargas (FGV). Associado à elevação dos preços, a alta taxa de desemprego e falta de reposição salarial fazem com que o brasileiro tenha menos acesso à alimentação de qualidade e muitos incrementam a sua alimentação através de projetos socias que visam diminuir a desigualdade alimentar da população com maior necessidade.
Porque o alimento produzido no Brasil não chega a todos?
Alguns fatores explicam a falta de alimentos das famílias no cenário atual: preços elevados dos combustíveis, adversidades climáticas e problemas de distribução. O abastecimento alimentar das cidades é realizado através do transporte rodoviário (mais de 80%), gerando um efeito cascata no preço do alimento, pois o aumento dos combustíveis eleva o valor do alimento para o consumidor final. Adversidades climáticas também influenciam nos valores de inúmeros alimentos. As últimas geadas que aconteceram no país foram generalizadas e inúmeros produtos terão seus valores aumentados, como o café (produções em Minas Gerais foram fortemente agredidos pelas geadas), a farinha de trigo (27% das lavouras de trigo no Paraná sofreram efeito das geadas), frutíferas e hortaliças produzidas em campo aberto. A forma de distribuição de alimentos também desfavorece a estabilidade nos preços: o comércio local das cidades ainda prefere se abastecer nas CEASAs dos grandes centros, e há pouco interesse em adquirir alimentos de produtores locais.
Mas como promover a segurança alimentar para a população?
Uma estratégia é a manutenção de políticas públicas e público-privadas para produção de alimentos locais. Políticas públicas como o Programa de Aquisição de Alimentos (PAA), da Secretaria da Agricultura, Pecuária e Desenvolvimento Rural (SEAPDR) incentiva que a merenda escolar seja obtida principalmente de produtores locais. Projetos privados como o “Projeto Cadeias Curtas” (Coopeagri - Ibirubá) auxilia pequenos produtores a produzir hortifruti que são comercializadas na Feira Livre da Agricultura Familiar e Camponesa e através da Feira Virtual. Os produtos também são destinados à meranda das escolas. Ações público-privados, como as desenvolvidas pela cooperativa Cotriel (Espumoso) e pela Secretaria da Educação visa levar informações às escolas das cidades próximas sobre a importância de produzir alimentos como hortifruti, principalmente em locais distântes dos centros urbanos, como Campina Redonda e Depósito.
Fortalecer a agricultura regional é um dos caminhos para a manutenção do equilíbrio dos preços, uma vez que alimentos produzidos próximo ao consumidor mantêm seu preço estável, sofrendo menos impactos gerados pelo efeito cascata provocado pelo aumento de combustíveis e pelas intempérias climátcas. Alimentos locais chegam ao consumidor final com uma maior qualidade do que o alimento passa por intermediários e tem um elevado tempo de prateleira. A agricultura local deve ter mais visibilidade e projetos (públicos e privados) devem ser aprimorados para auxiliar que produtores locais contribum para a manutenção da alimentação local.
Clarice Budke Bourscheid e Manoeli Lupatini